MOARA – Revista Eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Letras ISSN: 0104-0944

DA RECEPÇÃO COMO REAÇÃO

Névio R. Clothe

Resumo

Num poema típico do cânone,  “O lírio intangível“, de Alberto  Olivei ra, o que fundamenta a contraposição entre pântano e lírio é a pré-moderna dicotomia entre inferno e céu, carne e espírito, virgindade e pecado,  ideal e real.  Por não discernir as limitações da tradição metafísica, esse texto estava ultrapassado antes mesmo de ser escrito. O cânone exclui-se da modernidade filosófica, não passando de requentamento  do que já foi  dito melhor.  O poema  de Alberto  Oliveira é tão católico que não consegue perceber que o seu drama é determinado, sobretudo, pela visào de mundo em que acredita.’ Sob a aparência de uma crítica atroz (vida = pântano), não está criticando coisa alguma.‘ se tudo é ”pântano”, nada o é. Sob a aparência de ser radical, a critica é metafísica, nada tendo de real. Ela repete o pessimismo cristão (que não sabe que é pessimista),  para  o qual a  vida terrena é um vale de lágrimas, sendo a vida após a morte a única esperança de salvaçâo. O ”parnaso-simbolismo “ é apregoado como superação do ”mau gosto naturalista”. A exegese canonizante evita qualificar o perfil político de Bilac. O “Príncipe dos Poetas ” acha que é sublime o seu elitismo sem fundamento. Colocá-lo como “representante máximo do parnasianismo” serve, no Brasil hoje, para escamotear o espírito revolucionário de Baudelaire. Em nome de Baudelaire, os ”parnasianos brasileiros” traíram o mestre, mas essa atitude mantém o parâmetro geral do cânone, pois algo similar foi feito pelas demais escolas. Os nomes de Todas as escolas literárias brasileiras são falsos. Elas reduzem a literatura a ideologia de Estado.  O parnasianismo  de Bilan  é um  antiparnasianismo.


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DOI: http://dx.doi.org/10.18542/moara.v2i12.3105