Memórias, lutas e identidades das mulheres ‘filhas de Barcarena’
Resumo
Este artigo apresenta um recorte de experiências etnográficas realizadas no município de Barcarena (PA), em 2019, a partir da escuta e do registro de narrativas de mulheres. Trata-se de compreender as relações entre elas e o território, a partir de transformações específicas. Barcarena, cidade amazônica de origem indígena e ribeirinha, foi convertida em ‘zona de risco’ por megaprojetos de mineração, implantados por políticas desenvolvimentistas do Estado militar. Rios foram substituídos ou atravessados por estradas, e as florestas e os campos naturais foram recortados sob uma “política de integração”. As empresas foram criadas pela imposição, desconsiderando as territorialidades preexistentes. Diante desse contexto, investigamos as memórias de oito mulheres, nativas do município e algumas líderes comunitárias, que lutam por seus direitos em cinco comunidades. Recorremos à etnografia para realizar a imersão na realidade destas mulheres e conhecer as suas experiências de vida. A partir de diálogos com as entrevistadas, optamos pela Análise Crítica da narrativa de Luiz Gonzaga Motta (2013) para entender a construção deste ‘eu’ que tem experienciado o processo de mineralização. Nesse processo, forma-se um ‘novo sentido do eu’ reinventado no presente e nas suas problemáticas, mas sem romper com o passado. No script das vivências, Barcarena é representada como um lugar de desemprego, criminalidade e poluição, que requer organização coletiva para evitar novas imposições de territorialidade. Hoje, é possível perceber identidades e identificações de resistência nestas mulheres que narram uma saudade das experiências passadas, mas sem esquecer o desejo de um futuro para Barcarena.
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PDFDOI: http://dx.doi.org/10.18542/amazonica.v15i1.12105
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