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OCUPAÇÕES HUMANAS PRÉ-HISTÓRICAS NO LITORAL MARANHENSE: UM ESTUDO ARQUEOLÓGICO SOBRE O SAMBAQUI DO BACANGA NA ILHA DE SÃO LUÍS, MARANHÃO

Arkley Marques Bandeira

Resumo

A dissertação diz respeito à ocupação pré-histórica da Ilha de São Luís-Maranhão, a partir do estudo arqueológico realizado no sambaqui do Bacanga, que evidenciou vestígios materiais de populações pescadoras- coletoras- caçadoras e ceramistas, que se estabeleceram na região, em torno de 6.600 anos A.P. e permaneceram habitando esse assentamento até 900 A.P.

O referencial teórico pautou-se nos pressupostos da Arqueologia da Paisagem e da Antropologia das Técnicas e aglutinou uma gama de especialidades, envolvidas na datação de material arqueológico, na análise técnica da cerâmica, na identificação dos vestígios arqueofaunísticos, no levantamento topográfico, altimétrico e na execução de plantas e desenhos da distribuição espacial dos vestígios, bem como na caracterização geoambiental.

A descrição, interpretação e a correlação das informações obtidas no sambaqui do Bacanga permitiram construir conhecimento inédito sobre os processos ocorridos na pré-história da Ilha de São Luís, ao atestar a existência e permanência, por um longo período de tempo, de populações pescadoras- coletoras- caçadoras e ceramistas adaptadas a ambiente estuarino-marinho, cuja dieta envolvia a captura de uma variedade de animais e a coleta de algumas espécies vegetais, mas que, contudo, encontrava a sua base de sustentação na pesca e na utilização de crustáceos e moluscos como alimentos.

Um aspecto de fundamental importância para arqueologia brasileira e que não se obteve paralelo na literatura analisada relacionou-se à descoberta de um assentamento ceramista pré-sambaqui, cuja localização era a mesma do sambaqui do Bacanga, estando situado nas camadas mais antigas de ocupação, algo entre 6.600 a 5.500 anos A.P., com grande concentração de cerâmica, sem, no entanto, apresentar o acúmulo de restos alimentares nos pisos de ocupação. Depois disso,populações pescadoras- coletoras- caçadoras e ceramistas do sambaqui propriamente dito assentaram-se entre 5.000 a 900 anos A.P.

A confirmação ou refutação das hipóteses levantadas para o sambaqui do Bacanga careciam fundamentalmente do estabelecimento de uma cronologia para a área de estudo. A coerência sobre as interpretações relacionadas aos processos de formação do sítio, sua correlação com o paleoambiente e a ocorrência de cerâmica no registro arqueológico só foram possíveis a partir do diálogo com as datações absolutas obtidas.

O procedimento para a construção da cronologia do sambaqui do Bacanga consistiu na escolha de dois setores distintos do sítio para coleta de diferentes tipos de amostras para realização de datações absolutas. As técnicas utilizadas foram: Absorção de CO2 para estabelecimento de Carbono 14 para sete amostras de conchas e Termoluminescência e Luminescência Opticamente Estimulada para oito amostras de cerâmicas, totalizando 15 elementos datados.

Em termos verticais, as escavações se deram até o solo arqueologicamente estéril, permitindo que todos os episódios que envolveram a chegada, a permanência, o desenvolvimento de atividades cotidianas e o abandono do assentamento fossem observados e temporizados. Além disso, outras informações importantes foram coletadas, principalmente as que se referem aos primórdios da ocupação humana da área do Bacanga, pois já se sabe que os primeiros grupos se estabeleceram na região em torno de 6.600 A.P. e que buscaram assentar-se em um ambiente formado por uma floresta de manguezal em expansão, uma vez que a grande disponibilidade de recursos no pós-período inicial do Holoceno, em áreas costeiras e estuarinas estava atraindo grupos humanos para essas regiões.

Conforme exposto, afirma-se que o sambaqui do Bacanga não foi edificado de uma única vez, sendo evidente que processos variados e em momentos distintos incidiram na formação desse assentamento, algo atestado pela ocupação temporal diferenciada de algumas áreas. Além disso, o que se percebe hoje como o sambaqui do Bacanga pode ser o resultado de distintos episódios de fixação humana na paisagem, sendo que fatores antrópicos e naturais atuaram na conformação e modelagem do sítio.

Com relação aos aspectos de formação do sambaqui do Bacanga, observando-se os elementos que formam os pisos de ocupação ou as camadas arqueológicas percebe-se, claramente, uma diferenciação nos tipos de assentamento: em um primeiro momento, em torno de 6.600 a 5.800 anos A.P. grupos humanos chegam ao território do atual sambaqui do Bacanga, portando conhecimento para se produzir cerâmica e com uma subsistência pouco dependente dos recursos aquáticos dos ambientes costeiros e estuarinos, para em seguida, algo em torno de 5.800 a 3.900 A.P., começarem a acumular conchas, outros restos alimentares e bens materiais em sua área de moradia, permanecendo com a manufatura da cerâmica e bem adaptados à exploração de recursos do estuário do Bacanga e da Baía de São Marcos, com uma subsistência baseada na pesca, coleta de frutos do mar e em menor importância, a caça, até o abandono da área, em torno de 900 anos A.P.

Em síntese, a inserção do sítio em questão, nas escalas espaciais, temporais e ambientais, bem como o estudo dos vestígios arqueológicos estabeleceram parâmetros pioneiros para que futuras pesquisas no Maranhão encontrem referenciais de suporte e levem em consideração a história de longa duração dos primeiros povoadores da Ilha de São Luís.






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