Levantamento arqueológico nas margens do rio Alto Trombetas II: o sítio Faisal, Pará
Resumo
O Projeto Geoarqueologia da Amazônia (CNPq-UFOPA) tem realizado o estudo etnopedológico junto às comunidades quilombolas que habitam a margem direita do rio Trombetas na Floresta Nacional Saracá-Taquera, município de Oriximiná (PA). No âmbito deste projeto foram identificados até o momento doze sítios arqueológicos pré-coloniais, tendo ocorrido a escavação do sítio Faissal, comunidade Juquirizinho, na qual foi obtida grande quantidade de material cerâmico. A região do Trombetas/Nhamundá vem sendo alvo de interesse e pesquisas arqueológicas desde o século XIX até a atualidade devido à ocorrência de ídolos de pedra, muiraquitãs, sítios extensos com terra preta e uma cerâmica indígena antiga ricamente decorada. Os estudos que se debruçam sobre esse material apontam a incidência de ao menos três tipos cerâmicos com cronologias distintas. O Konduri, mais superficial e recente (entre X e XV d.C.), é associado à Tradição Inciso-Ponteada, sendo marcado pelo uso de grande quantidade de cauixi como antiplástico, profusão de modelados, incisões e ponteados como motivos decorativos, bases trípodes com suportes cônicos e adornos biomorfos. O Pocó, de estratigrafia mais profunda e antiga (I a.C. e IV d.C), vem sendo relacionado a complexos cerâmicos da Amazônia Central (Manacapuru e Açutuba), caracterizando-se pela utilização da policromia, modelado e incisões como decoração, cauixi e cariapé como antiplástico predominante e vasos carenados. Há ainda a ocorrência de outro tipo associado à decoração incisa “espinha de peixe”, mas sem grande aprofundamento em sua análise na literatura disponível, sendo caracterizado pela utilização de mineral (quartzo) como antiplástico, fragmentos pouco espessos, maciços e por vezes decorados com motivos incisos e adornos circulares. Esse trabalho tem o objetivo de apresentar os dados preliminares obtidos a partir da análise do material cerâmico do sítio Faissal, que apresenta predomínio da cerâmica Konduri e intrusão significativa da chamada cerâmica “espinha de peixe” no mesmo horizonte estratigráfico, sendo pontual a incidência do material Pocó. Tal correlação entre tipos cerâmicos distintos, antes de dizerem respeito a limites espaciais e temporais de grupos culturais diferenciados, tem o potencial de discutir a interação entre indústrias cerâmicas ao menos em parte contemporâneas. Afinal, trata-se de numa região conhecida pelo contato e inter-relação entre culturas arqueológicas oriundas da Amazônia Central e Baixo Amazonas, bem como pelo registro etno-histórico e etnográfico da inserção das populações indígenas locais em extensas redes de trocas nas Guianas, onde a calha principal do Amazonas seria um dos polos de atração.
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