O RISO GROTESCO E O RISO DE CHARIVARI NA SOCIEDADE HUMORÍSTICA: A PARÓDIA SOCIAL NO FILME “CORINGA”
Resumo
Este artigo tem como objetivo apresentar uma análise do riso no filme Coringa (Todd Phillips, 2019) enquanto paródia de elementos constituintes da sociedade atual, a qual incorpora uma sociedade humorística nos termos de Gilles Lipovetsky (2014) e onde os fenômenos do riso grotesco e dos Charivaris marcam presença sob formas reinventadas. Coringa apresenta diversos pontos de reflexão, dentre os quais, destacaremos o contexto social, onde a “leveza do humor” e o vínculo entre riso e violência prevalece. A atmosfera do humor é a ambientação geral da atual sociedade, onde tudo precisa ter “graça” (os acontecimentos sérios, a vida política, as catástrofes etc.), uma sociedade humorística (LIPOVETSKY, 2014). Lipovetsky (2014) caracteriza essa sociedade por um clima de “leveza” geral. Mostraremos, porém, que o riso comumentemente assume sua face violenta, ou sob sua forma menos recorrente, o grotesco, apreendido sob o signo da inquietude, estranheza. Sua natureza é de denúncia, de apreensão do real (BAUDELAIRE, 1998); ou sob a outra mais comum, o riso de Charivari, que é de natureza grupal, segregadora e excludente, um riso inscrito na “lógica simbólica do ruído” que tem suas origens na Idade Média (GAUVARD, 1974; MINOIS, 2003).
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PDFReferências
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FILMOGRAFIA
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DOI: http://dx.doi.org/10.18542/apoena.v1i2.11507
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