REVISTA APOENA - Periódico dos Discentes de Filosofia da UFPA

Qual Constitucionalismo Brasileiro? Alguns elementos constitutivos de uma interpretação constitucional autoritária

Gabriel Alberto Souza de Moraes, Sérgio Fiuza de Mello Mendes Filho

Resumo

Autocracias têm surgido em democracias ocidentais, alterando fundamentalmente o quadro institucional e constitucional democrático. A terceira onda de autocratização utiliza-se de meios legais para erodir normas jurídico-democráticas sem abolir suas instituições. Esse fenômeno é exemplificado no período de 2018-2022 no Brasil, marcado pela vitória eleitoral do populista de extrema-direita Jair Messias Bolsonaro, acelerando a autocratização. Essas questões não são exclusivas do “eixo norte”, mas também afetam o “eixo sul”, por onde cientistas políticos destacam a expropriação da engenharia  constitucional. Assim, juristas desempenham um papel fundamental na construção da legalidade autoritária. Por esse motivo, o artigo explora alguns dos elementos da interpretação constitucional autoritária no Brasil, utilizando-se de métodos qualitativos e exploratórios para analisar as conexões entre ideologias políticas e constitucionalistas que participaram da Assembleia Constituinte de 1987. Na sequência, também extrai algumas epistemes dos juristas conservadores associados à crise da democracia sob Bolsonaro, tendo como fonte suas obras escritas. Além disso, ensaia-se como essas interpretações influenciam o Supremo Tribunal Federal. Postula-se que esses elementos interpretativos constituem um terreno fértil dentro do espectro político de extrema-direita, com Bolsonaro proporcionando uma plataforma proeminente, por onde simultaneamente permeia o constitucionalismo brasileiro e também enfrenta resistência no STF.


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DOI: http://dx.doi.org/10.18542/apoena.v4i8.19008

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