Qual Constitucionalismo Brasileiro? Alguns elementos constitutivos de uma interpretação constitucional autoritária
Resumo
Autocracias têm surgido em democracias ocidentais, alterando fundamentalmente o quadro institucional e constitucional democrático. A terceira onda de autocratização utiliza-se de meios legais para erodir normas jurídico-democráticas sem abolir suas instituições. Esse fenômeno é exemplificado no período de 2018-2022 no Brasil, marcado pela vitória eleitoral do populista de extrema-direita Jair Messias Bolsonaro, acelerando a autocratização. Essas questões não são exclusivas do “eixo norte”, mas também afetam o “eixo sul”, por onde cientistas políticos destacam a expropriação da engenharia constitucional. Assim, juristas desempenham um papel fundamental na construção da legalidade autoritária. Por esse motivo, o artigo explora alguns dos elementos da interpretação constitucional autoritária no Brasil, utilizando-se de métodos qualitativos e exploratórios para analisar as conexões entre ideologias políticas e constitucionalistas que participaram da Assembleia Constituinte de 1987. Na sequência, também extrai algumas epistemes dos juristas conservadores associados à crise da democracia sob Bolsonaro, tendo como fonte suas obras escritas. Além disso, ensaia-se como essas interpretações influenciam o Supremo Tribunal Federal. Postula-se que esses elementos interpretativos constituem um terreno fértil dentro do espectro político de extrema-direita, com Bolsonaro proporcionando uma plataforma proeminente, por onde simultaneamente permeia o constitucionalismo brasileiro e também enfrenta resistência no STF.
Texto completo:
PDFReferências
AVRITZER, Leonardo. KERCHE, Fábio. MARONA, Marjorie (orgs.). Governo Bolsonaro: retrocesso democrático e degradação política. Belo Horizonte: Autêntica, 2021.
BIRLE, Peter. SPECK, Bruno. (eds.) Brazil Under Bolsonaro: How Endangered is Democracy?. Berlin: Ibero-Amerikanisches Institut Preußischer Kulturbesitzp, 2022.
DA SILVA, Virgílio Afonso. Ideias e instituições constitucionais do século XX no Brasil: o papel dos juristas. Revista Brasileira de Estudos Políticos, p. 229-246, 2015.
Disponível em: https://pos.direito.ufmg.br/rbep/index.php/rbep/article/view/P.0034-
2016V111P229. Acesso em 7 de out. 2022.
DALLARI, Adilson Abreu. Interpretação consequencialista do Art. 142 da Constituição Federal. In: PORCIUNCULA, Marcelo (org.). A competência das Forças Armadas segundo o art. 142 da Constituição Federal de 1988. Rio de Janeiro: Marcial Pons, 2022.
ENGELMANN, Fabiano. PENNA, Luciana. Política na forma da lei: o espaço dos constitucionalistas no Brasil democrático. Lua Nova, São Paulo , n. 92, p. 177-206, ago. 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ln/a/qyR9jk8qKxgWX6rbnkVrXgn/
abstract/?lang=pt. Acesso em 8 de out. 2022.
LANDAU, David. Abusive Constitutionalism. U.C. Davis Law Review, University of California, vol. 47, n. 1, p. 189-260, nov. 2013. Disponível em: https://heinonline.org/HOL/LandingPage?handle=hein.journals/davlr47&div=7&id=&page=. Acesso em 26
de jan. 2023.
LÜHRMANN, Anna. LINDBERG, Staffan I. A third wave of autocratization is here: what is new about it?. Democratization, vol. 26, n. 7, p. 1095-1113, 2019. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/pdf/10.1080/13510347.2019.1582029?needAccess=true. Acesso em 7 de out. 2022.
MARTINS, Ives Gandra. Harmonia e independência dos poderes?. Consultor Jurídico - ConJur, 2 de maio de 2020. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2020-mai-02/ives-gandra-harmonia-independencia-poderes. Acesso em 6 de out. de 2021.
MAGALHÃES, Breno Baía. A Importância da Teoria no Direito Constitucional: Panorama Geral e Apresentação do Curso. In: MAGALHÃES, Breno Baía (org.). Curso de Teorias Constitucionais Brasileiras. Belo Horizonte: Conhecimento, 2022, p. 7-30.
MEYER, E. P. N. Constitutional erosion in Brazil. Oxford/New York: Hart, 2021.
NOBRE, Marcos. Limites da democracia: de junho de 2013 ao Governo Bolsonaro. São Paulo: Todavia, 2022.
ROSENFIELD, Luis. Revolução conservadora: genealogia do constitucionalismo autoritário brasileiro (1930-1945). Porto Alegre: EDIPUCRS, 2021.
SAAD, Amauri. O art. 142 da Constituição de 1988. Ensaio sobre sua interpretação e aplicação. In: PORCIUNCULA, Marcelo (org.). A competência das Forças Armadas segundo o art. 142 da Constituição Federal de 1988. Rio de Janeiro: Marcial Pons, 2022.
SANTOS, Rogério Dultra dos. Teoria constitucional, ditadura e fascismo no Brasil. São Paulo: Tirant lo blanch, 2022.
SCHEPPELE, Kim L. Autocratic legalism. The University Chicago Law Review, v. 85, n. 2, p. 545-583, 2018. Disponível em: https://lawreview.uchicago.edu/sites/lawreview.uchicago.edu/files/11%20Scheppele_SYMP_Online.pdf. Acesso em 8 de out. 2022.
SUNSTEIN, Cass R.. Constitutional Personae: Heroes, Soldiers, Minimalists and Mutes. New York: Oxford University Press, 2015.
TEITELBAUM, Benjamin R. Guerra pela eternidade: O retorno do tradicionalismo e a ascensão da direita populista. São Paulo: Editora Unicamp, 2020.
VIEIRA, Oscar Vilhena. GLEZER, Rubens. BARBOSA, Ana Laura Pereira.
Supremocracia e infralegalismo autoritário: o comportamento do Supremo Tribunal Federal durante o governo Bolsonaro. Novos Estudos – CEBRAP, São Paulo, vol. 41, n. 3, p. 591-605, set./dez. 2022. Disponível em: https://novosestudos.com.br/wpcontent/uploads/2023/01/08_artigo_vieira_124_p590-608.pdf. Acesso em: 2 de jan. 2023.
DOI: http://dx.doi.org/10.18542/apoena.v4i8.19008
Apontamentos
- Não há apontamentos.