MOARA – Revista Eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Letras ISSN: 0104-0944

LÍNGUAS E IDENTIDADES: EPISTEMOLOGIA DA DIVERSIDADE

Patriclk DAHLET

Resumo

O sujeito plurilíngüe é, ao mesmo tempo, estranhamente feliz e infeliz. Feliz, pois experimenta uma fantástica abertura para novas significações e identificações que permitem, justamente, a coexistência e o cruzamento, em sua competência de linguagem, de uma maior profusão de variedades lingüísticas e de signos potenciais. Infeliz, pois o plurilinguismo  tem por pano de fundo, na maioria das vezes , a despossessão de uma primeira língua  e conflito entre identidades desejadas e identidades prescritas: o plurilinguismo também é sempre o que permanece após o desarraigamento e se conjuga com a perda de um regime de linguagem herdado. Embora possam se autoconceber longe dessas perturbações, ao representar a si mesmas como fontes essencial de felicidade e harmonia, as identidades plurilíngües se definem assim, constitutivamente, pela série de tensões ininterruptas provocadas,  na subjetividade, pela imbricação, de línguas de parentescos e línguas impostas, percebidas como simbólica e comunicativamente incompatíveis. E no âmbito desta visão intranqüila do plurilinguismo que se inscreve. Baseada na análise de depoimentos de comunidades de falantes plurilíngües do Caribe e das Américas, ela elabora os princípios de uma representação das identidades plurilíngües que, embora reconheça o sentimento de empatia e plenitude que pode amalgamá-las, deixa um espaço determinante para as quebras e (des)agregações  de toda a sorte, a que são submetidos os sujeitos na experiência singular de seus plurilinguismos. Esses princípios apresentam-se como referências para uma epistemologia e uma ética da pluralidade que depõe os enquadres por demais monolíngues e idealistas que, geralmente, ainda orientam as visões das composições identitárias plurilíngues e sua construção nas pessoas e nas sociedades. Se as identidades plurilíngues têm alguma relevância, esta se encontra, afinal, no jogo, sempre reiniciado, de imposições, estremecimentos e aberturas, ao qual sua análise permite assimilar os processos individuais de identificação plurilíngue. E é somente na medida em que forem levadas em conta as experiências de negação e conflitos que articulam esses processos, que as novas identidades plurilíngues  poderão tornar-se eixo de sociedades que educam realmente (isto é, que educam sem ignorar as tensões e as regulações destruidoras) para a dependência recíproca das línguas e das culturas na construção de uma universalidade partilhada.

PALAVRAS- CHAVE: Plurilinguismos; Violência; Identificações; Rupturas; Mixilinguismos; Sociedades de reconhecimentos.  


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DOI: http://dx.doi.org/10.18542/moara.v2i32.3642