Clarice Lispector: literatura, pensamento, animalidade
Resumo
Na esteira da reflexão, ao modo derridiano, que concebe a ficção de Clarice Lispector não como uma literatura filosófica, mas, antes, como uma “literatura pensante”, conforme proposto por Nascimento (2015), este artigo investiga o liame entre literatura, pensamento e animalidade no romance A paixão segundo G.H. Nesta proposta de leitura calcada no esgarçamento das fronteiras entre os discursos literário e filosófico, o objetivo precípuo consiste em examinar em que medida a literatura clariciana configura uma poética que suscita novas formas de ser, agir e pensar. Para tanto, adotamos como balizamento teórico desse exercício hermenêutico a perspectiva de Derrida em torno da questão animal, bem como de outros filósofos e críticos literários que desmantelam a antinomia entre humanidade e animalidade. A exegese da obra permite concluir que a escritora brasileira, ao romper essa cisão supostamente ontológica, ressignifica a relação humano/animal, historicamente clivada por uma gramática normativa norteadora da lógica metafísica e binária que baliza nossos regimes de significação.
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PDFDOI: http://dx.doi.org/10.18542/moara.v0i53.8235