Associações comunitárias em unidades de conservação: instâncias de mediação social e participação política
Resumo
Neste texto analisamos desdobramentos da institucionalidade de associações comunitárias na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, estado do Pará. A análise é elaborada a partir de dados obtidos em pesquisa de campo realizada de 2015 a 2018, por meio de entrevistas com moradores de comunidades e acompanhamento de reuniões dos conselhos gestores da Reserva. A gestão de território reconfigura relações sociopolíticas a partir de sua inserção na dinâmica dos aparatos racionais-legais do Estado, demandando articulação com ampla rede de atores formalmente constituídos em instâncias de representação institucional, instrumentos formais de gestão territorial, preceitos normativos definidos e regulamentados em estatutos. Nesse contexto, a proliferação de associações formais a partir dessa nova dinâmica de gestão fundamenta-se em ação coletiva institucionalizada, expressa por distintos atores e arenas articuladoras de órgãos do Estado e da sociedade civil, e por engajamento de comunitários segundo peculiaridades correspondentes a seus próprios modos de vida. Essas possíveis e negociadas convergências pressupõem reconfiguração de práticas sociais segundo instâncias de mediação social e participação política. Pela análise, evidenciamos contradições explicitadas por processos de mudanças sociais articuladas à impositiva necessidade de representação social e política, então formalizada em associações legalmente constituídas.
Palavras-chave
reserva extrativista; participação; agentes mediadores; populações extrativistas; organização social.
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