Território e subsistência de povos tradicionais frente à expansão da cadeia global de valor do óleo de palma: os casos de Tailândia e Tomé-Açu (PA)
Resumo
O artigo investiga as consequências da expansão desregulada da cadeia global de valor do óleo de palma sobre território e subsistência de comunidades quilombola e indígena em Tailândia e Tomé-Açu – municípios pertencentes ao Nordeste paraense, mesorregião que concentra a produção nacional da commodity. Trabalhou-se com Pesquisa de Campo e Revisão Teórica. Para além da progressão de problemáticas territoriais crônicas – vinculadas à pressão fundiária, grilagem de terras e violência no campo –, constatou-se que a expansão desordenada da cadeia estimula: a contaminação de recursos naturais, a redução da biodiversidade local, o arrefecimento da soberania alimentar nas comunidades e a absorção de seus membros por atividades vinculadas à fabricação da commodity. Concluiu-se que o espraiamento da cadeia impulsiona a perpetuação de conflitos sociais e impactos ecológicos nas comunidades visitadas, além de comprometer território e subsistência de indígenas e quilombolas; atuando como prática de violação ao direito dos povos tradicionais à terra.
Palavras-chave
óleo de palma; Amazônia; povos tradicionais; território.
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DOI: http://dx.doi.org/10.18542/ncn.v27i3.16074
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