Logo do cabeçalho da página Novos Cadernos NAEA

Desenvolvimento sustentável, acordos verdes e bioeconomias na Amazônia: delineamentos para a ação programática a partir da economia agrária

Francisco de Assis Costa, Danilo Araujo Fernandes, Ricardo T. Folhes, Harley Silva, Raul Ventura

Resumo

O artigo discute a evolução das ideias em torno da noção de desenvolvimento sustentável, estabelecendo o conceito – em sua fundamentação ético-normativa, teórica e programática – como orientador de políticas de desenvolvimento da Amazônia. Visando delinear a economia agrária da Amazônia Legal como objeto de análise e de ação programática em perspectiva do desenvolvimento sustentável, o artigo apresenta as trajetórias tecnoprodutivas rurais na Amazônia e compara sua evolução com dados dos censos agropecuários de1995, 2006 e 2017. Destacando o crescimento de cada uma dessas trajetórias, discute seus fundamentos no contexto de variantes tecnológicas que dependiam criticamente da terra desmatada e eram mais ou menos intensas em componentes mecânico-químicos, diferenciando-as das intensas em trabalho e no uso de recursos florestais. Os resultados ressaltam o peso que as trajetórias com base em culturas temporárias e bovinos de corte assumiram na região, apontando para os riscos ambientais e sociais e as mudanças estruturais que isso envolve – a insustentabilidade inerente desse estado de coisas. Os resultados também demonstram o contraponto representado pela sustentabilidade que é possível presumir do andamento e caraterísticas das trajetórias baseadas em sistemas agroflorestais.


Palavras-chave

desenvolvimento sustentável; dinâmica agrária; trajetórias tecnoprodutivas; sistemas agroflorestais; desmatamento.


Texto completo:

PDF

Referências


ALTIERI, M. A. Agroecologia: as bases científicas da agricultura alternativa. Rio de Janeiro, PTA/Fase, 1989.

ALTVATER, E. O preço da riqueza. São Paulo: Editora da UNESP, 1995.

ARTHUR, W. B. Increasing returns and path dependence in the economy. In: DOSI, G. et al. (ed.). Technical change and economic theory. London and New York: Printer Publisher, 1994. p. 608-635.

BECKER, B. K. Síntese do processo de ocupação da Amazônia – Lições do passado e desafios do presente. In: BRASIL. Causas e dinâmicas do desmatamento na Amazônia. Brasília, DF: MMA, 2001. p. 5-28.

BECKER, B. K. Reflexões sobre a geopolítica e a logística da soja na Amazônia. In: COSTA, W. M.; BECKER, B. K.; ALVES, D. S. A. (org). Dimensões humanas da biosfera-atmosfera da Amazônia. São Paulo: Edusp, 2007. p. 113-128.

BELMONTE-UREÑA, L. J., PLAZA-ÚBEDA, J. A, VAZQUEZ-BRUST, D., YAKOVLEVA, N. Circular economy, degrowth and green growth as pathways for research on sustainable development goals: A global analysis and future agenda. Ecological Economics, [s. l.], vol. 185, e107050, 2021.

BEUS, C. E; DUNLAP, R. E. Conventional versus alternative agriculture: the paradigmatic roots of the debate. Rural Sociology, [s. l.], vol. 55, n. 4, p. 590-616, 1990.

BIRCH, K. Knowledge, place, and power: geographies of value in the bioeconomy. New Genetics and Society, [s. l.], vol. 31, n. 2, p. 183-201, 2012.

BLOOMFIELD, J.; STEWARD, F. The politics of the green new deal. The Political Quarterly, [s. l.], vol. 91, n. 4, p. 770-779, 2020.

BUGGE, M. M.; HANSEN, T.; KLITKOU, A. what is the bioeconomy? A review of the literature. Sustainability, [s. l.], vol. 8, n. 691, p. 1-22, 2016.

CARPORAL, F. R.; COSTABEBER, J. A. Agroecologia: alguns conceitos e princípios. Brasília, DF: MDA-SAF-Dater-IICA, 2004.

CHAYANOV, A. Die Lehre von der bäuerlichen Wirtschaft: versuch einer theorie der familienwirtschaft im landbau. Berlin: Verlag Paul Parey, 1921.

CHERUBINI, F. The biorefinery concept: using biomass instead of oil for producing energy and chemicals. Energy Conversion and Management, [s. l.], v. 51, n. 7, p. 1412-1421, 2010.

COLLICOTT, B. J. The metaphysical transition in farm: from the Newtonian-mechanical to Eltonian-ecological. Journal of Agricultural Ethics, [s. l.], vol. 3, p. 36-49, 1990.

COSTA, F. A. O investimento camponês: considerações teóricas. Revista de Economia Política, São Paulo, v. 15, p. 83-100, 1995.

COSTA, F. A. Trajetórias Tecnológicas como objeto de políticas de conhecimento para a Amazônia: uma metodologia de delineamento. Revista Brasileira de Inovação, Campinas, v. 8, n. 1, p. 35-86, 2009.

COSTA, F. A. Economia camponesa nas fronteiras do capitalismo: teoria e prática nos EUA e na Amazônia Brasileira. Belém: NAEA, 2012a.

COSTA, F. A. Formação agropecuária na Amazônia: os desafios do desenvolvimento sustentável. Belém: NAEA, 2012b.

COSTA, F. A. Heterogeneidade estrutural, tecnologias concorrentes, desenvolvimento sustentável: uma proposta teórica para o tratamento da dinâmica agrária referida a território, com menção especial à Amazônia. Boletim Regional, Urbano e Ambiental (IPEA), Brasília, DF, v. 8, p. 11-26, 2013.

COSTA, F. A. O momento, os desafios e as possibilidades da análise econômica territorial para o planejamento do desenvolvimento nacional. Nova Economia, Belo Horizonte, v. 24, p. 613-644, 2014.

COSTA, F. A. A Brief Economic History of the Amazon: 1720-1970. New Castle: Cambridge Scholars Publishing, 2019.

COSTA, F. A. Economia camponesa referida ao bioma da Amazônia: atores, territórios e atributos. Papers do NAEA, Belém, n. 476, p. 1-22, 2020.

COSTA, F. A. Structural diversity and change in rural Amazonia: a comparative assessment of the technological trajectories based on agricultural censuses (1995, 2006 and 2017). Nova Economia, Belo Horizonte, v. 31, p. 415-45, 2021.

COSTA, F. A. From the appropriation of public lands to the dynamics of deforestation: the formation of the land market in the Amazon (1970-2017). Nova Economia, Belo Horizonte, v.33, p.305-333, 2023.

COSTA, F. A. Database of Rural Technological Trajectories of the Legal Amazon delimited by the Method of Differentiation and Structural Signification of Rural Production. Zenodo, [s. l.], 30 Aug. 2022b. Disponível em: https://doi.org/10.5281/zenodo.7035753. Acesso em: 10 mar. 2024.

COSTA, F. A.; FERNANDES, D. A. Dinâmica agrária, instituições e governança territorial para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. Revista de Economia Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 20, p. 517-552, 2016.

COSTA, F. A.; SCHMINK, M.; HECHT, S.; ASSAD, E. D.; BEBBINGTON, D.H.; BRONDIZIO, E. S.; FEARNSIDE, P. M.; GARRET, R.; HEILPERN, S.; McGRAPH, D.; OLIVEIRA, G.; PEREIRA, H. S. Complex, diverse, and changing

agribusiness and livelihood systems in the Amazon. In: SPA. (ed.). Science Panel for the Amazon Assessment Report 2021: Social-Ecological Transformations: Changes in the Amazon. 1 ed. New York: United Nations Sustainable Development Solutions Network, 2021. v. 2, p. 1-59.

COSTANZA, R.; GRAUMLICH, L. J.; STEFFEN, W. Sustainability or collapse? An integrated history and future of people on earth. Cambridge: MIY Press, 2007.

DALY, H. Steady State Economics. Sam Francisco: W. H. Freeman, 1977.

DALY, H.; FARLEY, J. Ecological Economics: principles and applications. Washington, DC: Island Press, 2004.

DOSI, G. Technological paradigms and technological trajectories. Research Policy, [s. l.], vol. 11, n. 3, p. 147-162, 1982.

DREGSON, A. R. Two philosophies of agriculture: from industrial paradigm to natural pattern. The trumpeter: voices from the Canadian Ecophilosophy Network 3, [s. l.], p. 17- 22, 1985.

FAUCHEUX, S. ; NOËL, J. F. Économie des ressources naturelles et de l’environnement. Paris: Armand Colin Éditeur, 1995.

FERNANDES, D. A.; COSTA, F. A.; FOLHES, R. T.; SILVA, H.; VENTURA NETO, R. Por uma bioeconomia da socio-biodiversidade na Amazônia: lições do passado e perspectivas para o futuro. São Paulo: MADE-FEA/USP, 2022. (Nota de Política Econômica no. 023).

FOLHES, R. T.; FERNANDES, D. A. A dominância do paradigma tecnológico mecânico-químico- genético nas políticas para o desenvolvimento da bioeconomia na Amazônia. Papers do NAEA, Belém, n. 540, p. 1-25, 2022.

FREEMAN, C. The 'National System of Innovation' in historical perspective. Cambridge Journal of Economics, [s. l.], v. 19, p. 5-24, 1995.

GARRETT, R. D.; RUEDA, X.; LAMBIN, E. F. Globalization’s unexpected impact on soybean production in South America: Linkages between preferences for non-genetically modified crops, eco-certifications, and land use. Environmental Research Letters, [s. l.], vol. 8, e044055, 2013.

GEORGESCU-ROEGEN, N. Economic Theory and Agrarian Economics. Oxford Economic Papers, [s. l.], vol. 12, n. 1, p. 1-40, 1960.

GEORGESCU-ROEGEN, N. The entropy law and the economic process. New York: Harvard University Press, 1971.

GOODMAN, D.; SORJ, B.; WILKINSON, J. Da lavoura às biotecnologias. Rio de Janeiro: Campus, 1988.

GREGIO, J. V. Agricultura sintrópica: produzindo alimentos na floresta, das raízes do aimpim ao dossel das castanheiras. 2018. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Cascavel, 2018.

GUHA, R.; MARTINEZ-ALIER, J. Varieties of Environmentalism: essays North and South. London: Earthscan Publications, 1997.

HAYAMI, Y.; RUTTAN, V. W. Agricultural development: an international perspective. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1980.

HECHT, S. Environment, development and politics: capital accumulations and the livestock sector in Eastern Amazonia. World Development, [s. l.], vol. 13, p. 663-684, 1985.

HECHT, S. The new rurality: globalization, peasants and the paradoxes of landscapes. Land Use Policy, vol. 27, p. 161-169, 2010.

HIROTA, M. et al. Resilience of the Amazon Forest to Global Changes: Assessing the Risk of Tipping Points. In: SPA. Executive Summary of the Amazon Assessment Report 2021. New York: SPA, 2021. p. 1-35.

IBGE. Censo agropecuário: principais resultados 1995. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Rio de Janeiro, 1995. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/agricultura-e-pecuaria/20700-1995-1996-censoagro1995.html. Acesso em: 10 mar. 2024.

IBGE. Censo agropecuário 2006. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Rio de Janeiro, 2006. Disponível em: https://ftp.ibge.gov.br/Censo_Agropecuario/Censo_Agropecuario_2006/Segunda_Apuracao/censoagro2006_2aapuracao.pdf. Acesso em: 10 mar. 2024.

IBGE. Censo agropecuário: resultados. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Rio de Janeiro, 2017. Disponível em: https://censoagro2017.ibge.gov.br/resultados-censo-agro-2017.html. Acesso em: 10 mar. 2024.

IISD. International Institute for Sustainable Development. IISDnet, [s. l.], 2000. Disponível em http://iisd1.iisd.ca/measure/bellagio1.htm. Acesso em: 10 mar. 2024.

JACOBS, M. Sustainable Development as a Contested Concept. In: DOBSON, A. (ed.). Fairness and Futurity: essays on environmental sustainability and social justice. Oxford: Oxford University Press, 1999. p. 21-45.

JACOBS, M. Green Growth: economic theory and political discourse. Centre for Climate Change Economics and Policy, [s. l.], n. 108, p. 1-24, 2012.

KASZTELAN, A. Green Growth, Green Economy and Sustainable Development: Terminological and relational discourse. Prague Economic Papers, [s. l.], vol. 26, n. 4, p. 487-499, 2017.

KEYNES, J. M. Teoria geral do emprego do juro e do dinheiro. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1972.

LEVIDOW, L.; BIRCH, K.; PAPAIOANNOU, T. Divergent paradigms of European agro-food innovation: the knowledge-based bio-economy (KBBE) as an R & D agenda. Sci. Technol. Hum. Values, [s. l.], vol. 38, p. 94-125, 2013.

LUSTOSA, M. C. J. Inovação e tecnologia para uma economia verde: questões fundamentais. Política Ambiental, [s. l.], n. 8, p. 110-122, jun. 2011.

MARQUES, P. R. As propostas internacionais para um Green New Deal: pautando a transição para uma economia verde no Brasil pós-pandemia. São Paulo: MADE-FEA/USP, 2020. (Nota de Política Econômica nº 002).

MARTINS, J. S. Expropriação e violência (a questão política no campo). São Paulo: Hucitec, 1980.

MAZZUCATO, M. The Green Entrepreneurial State. Susex: University of Sussex, 2015.

MEADOWS, D. L.; MEADOWS, D. H.; RANDERS, J.; BEHRENS, W. W. Limites do crescimento: um relatório para o Projeto do Clube de Roma sobre o dilema da humanidade. São Paulo: Perspectiva, 1972.

MORÁN, E. F. A ecologia humana das populações da Amazônia. Petrópolis: Vozes, 1990.

MUELLER, C. Os economistas e as relações entre sistema econômico e meio ambiente. Brasília, DF: UNB-FINATEC, 2007.

NASCIMENTO, E. P. Trajetória da sustentabilidade: do ambiental ao social, do social ao econômico. Estudos Avançados, São Paulo, v. 26, n. 74, p. 51-64, 2012.

NEHRING, R. Yield of dreams: marching west and the politics of scientific knowledge in the Brazilian Agricultural Research Corporation (Embrapa). Geoforum, [s. l.], vol. 77, p. 206-217, 2016.

NOBRE, C. et al. (ed.). Executive Summary of the Amazon Assessment Report 2021. New York: SPA, 2021.

NOBRE, M.; AMAZONAS, M. (org.). Desenvolvimento sustentável: a institucionalização de um conceito. Brasília: IBAMA-CEBRAP, 2012.

NORGAARD, R. B. Coevolutionary development potential. Land Economics, [s. l.], vol. 60, n. 2, p. 160-173, 1984.

NORGAARD, R. B. Sustainable Development: a coevolutionary view. Futures, [s. l.], vol. 20, n. 6, p. 606-620, 1988.

NUGENT, S. Amazonian caboclo society: an Essay on Invisibility and Peasant Economy. Oxford: Berg, 1993

OLIVEIRA, G. L. T. The geopolitics of Brazilian soybeans. Journal of Peasant Studies, [s. l.], vol. 43, p. 348-372, 2016.

PASINI, F. S. A Agricultura Sintrópica de Ernst Götsch: história, fundamentos e seu nicho. 2017. Dissertação (Mestrado em Ciências Ambientais e Conservação) – Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais e Conservação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017.

PEARCE, D. W. The limits of cost benefit analysis as a guide to environmental policy. Kyklos, [s. l.], vol. 29, p. 97-112, 1976.

PEARCE, D. W. Economics, equity and sustainable development. Futures, [s. l.], vol. 20, p. 598-606, 1988.

RAWLS, J. A theory of justice. Cambridge: Harvard University Press, 1971.

REBELLO, J. F. S.; SAKAMOTO, D. G. Agricultura Sintrópica em Larga Escala, resultados e desafios. Alto Paraiso: CEPEAS-ICMBio, 2022.

REDCLIFT, M. Sustainable development: needs, values, rights. Environmental Values 2, [s. l.], no. 1, p. 3-20, 1993.

ROMEIRO, A. R. Meio ambiente e dinâmica de inovação na agricultura. São Paulo: Fapesp/Annablume, 1998.

SCARLAT, N.; DALLEMAND, J. F.; MONTOTI-FERRARIO, F.; NITA, V. The role of biomass and bioenergy in a future bioeconomy: policies and facts. Environmental Development, [s. l.], vol. 15, p. 3-34, July 2015.

SCHMINK, M. Land conflicts in Amazonia. American Ethnologist, [s. l.], vol. 9, n. 2, p. 341- 357, 1982.

SEN, A. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

SERROA DA MOTTA, R. Manual para valoração econômica de recursos ambientais. Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal, 2005.

UNEP. Towards a green economy: pathways to sustainable development and poverty eradication. Washington, DC: United Nations Environment Program, 2011.

VEIGA J. E. Indicadores ambientais: evolução e perspectivas. Revista de Economia Política, Campinas, v. 29, n. 4, p. 421-435, 2009.

VEIGA, J. E. Sustentabilidade: a legitimação de um novo valor. São Paulo: Senac, 2012.

VELHO, O. G. Capitalismo autoritário e campesinato. São Paulo: Difel, 1976.

WCED. Our Common Future. Oxford/New York: Oxford University Press, 1987.

WORLD BANK. Green Growth Report. Washington, DC: WB, 2012.




DOI: http://dx.doi.org/10.18542/ncn.v28i1.18098

Indexadores 

            

          

 

 

Flag Counter

Print ISSN: 1516-6481 – Eletrônica ISSN: 2179-7536