JOICE LEAL E RICO LINS
Resumo
Contexto à guisa de resumo
A disciplina de História do Ensino da Arte e do Design no contexto da contemporaneidade foi ministrada por mim, Ana Mae Barbosa, no Programa de Pós-Graduação em Design, strictu senso, da Universidade Anhembi Morumbi (onde leciono desde 2006) de março a junho de 2022. Coincidiu com o retorno às aulas presenciais depois de dois anos de aulas remotas. Havia uma intensa necessidade de comunicação, de troca de experiências, de explicitação de afetividade, de envolver os processos de aprendizagem intelectuais com as vivências de cada participante da disciplina. De início éramos apenas mulheres, mas a nós se juntaram, como ouvintes, um designer e coordenador de escola privada e, quase no fim da disciplina um doutorando, professor de tecnologias contemporâneas. Não me pareceu que tiveram dificuldades em dialogar com nossa linha de reflexão que havia, sem planejamento anterior, se encaminhado para as reflexões feministas igualitaristas.
No primeiro dia de aula receberam a proposta da disciplina que começava com a Centennial Exhibition na Philadelfia em 1876, o grande sucesso da presença de D.Pedro II registrada nos jornais da época , inclusive no New York Times , assim como o sucesso da exposição pedagógica sobre ensino de Design dos alunos de Walter Smith que tanto encantou o imperador e Rui Barbosa. Passamos depois a analisar o design nas Exposições Industriais de 1908 (Exposição Nacional, no Rio de Janeiro, comemorativa do centenário da abertura dos portos do Brasil às nações amigas) com destaque para o pavilhão do Pará projetado por Theodoro Braga um dos pioneiros no ensino do Design no Brasil. Examinamos também a Exposição Internacional de 1922, comemorativa da independência do país comparando do ponto do decolonialismo com a excelente exposição de Arte e Cultura intitulada “Raio-que-o-parta: Ficções do Moderno no Brasil” apresentada naquele mês no SESC 24 de Maio SP sobre os modernismos, a qual foi um exemplo muito bem sucedido de modelo curatorial e de design de rompimento com o cubo branco europeu. Essa exposição, que posso designar de decolonial, foi analisada em diálogo com a Exposição “Era uma vez o Moderno [1910-1944]” do IEB/USP também visitada pelas/os alunas/os, formalmente alinhada aos cânones curatoriais europeus modernistas. Como era baseada nos arquivos de Mário de Andrade foi muito informativa e nos fez perceber o quanto ele era um intelectual à frente de seu tempo, o que foi potencializado pela arte/educadora Elly Ferrari do IEB, que orientou nossa visita e nos deu uma aula excelente.
Também no primeiro dia da aula foi entregue a proposta de trabalho final, a qual sugeria fazer uma entrevista publicável com um/uma designer que já tivesse comprovado que valorizava Educação ou fosse professor ou professora, mas não da Anhembi, por razões éticas. É bom lembrar que há um preconceito grande em pensar a Educação nas Artes e no Design por parte de profissionais mesmo muito bem sucedidos.
A educação é vista pelas elites como mediocrização ou assistencialismo.
Uma lista de designers culturalistas importantes na história contemporânea do Design no Brasil foi apresentada aos alunas/os. Discutiu-se o que cada estudante sabia acerca da produção daqueles/as designers. Na aula seguinte cada um/a escolheu seu entrevistado e foram discutidas as diferentes formas de entrevistas e principalmente como devemos nos preparar para entrevistar alguém de quem queremos saber mais informações, dados e especialmente ideias. Critica-se veementemente o entrevistador que não conhece nada do entrevistado, faz perguntas óbvias e irrelevantes. As/os alunos/as receberam orientação por escrito de perguntas que interessavam para nossa disciplina, acrescentaram possíveis perguntas que interessavam para suas teses e até algumas fontes onde se informarem acerca da/o entrevistada/o. Uma das dicas foi ver o trabalho e ler todas as entrevistas, lives e cursos que a/o designer escolhida/o houvesse dado.
A professora ficou responsável em dar o primeiro passo, apresentando por e-mail a/o aluna/o àquela pessoa escolhida para ser entrevistada. No mesmo e-mail também foram enviados aos entrevistados o programa do curso, assim como as orientações acima descritas que haviam sido dadas por escrito aos pós-graduandos. Os/as entrevistados/as foram tratados/as como co-participantes da disciplina e assim podiam avaliar se concordavam em se tornarem cúmplices daquela experiência. Apresentamos aqui duas entrevistas, uma com a designer Joice Leal e a outra com Rico Lins. Antes de serem submetidas para publicação, as entrevistas foram lidas, discutidas, corrigidas e aprovadas pelos/as entrevistados/as.
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PDFDOI: http://dx.doi.org/10.18542/arteriais.v8i14.14756
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