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Musical Body of the Universe: the one and many in an Amazonian cosmology

Robin Wright

Resumo

Resumo

Este trabalho explora os significados de “Corpo” e “Espírito” em relação a um dos mais importantes personagens na cosmologia Hohodene, o espírito “Guardião da Doença e da Magia”, chamado Kuwai [“Yurupary”, em língua geral]. Este Grande Espírito é uma síntese extraordinariamente complexa da visão Hohodene (e de outros Baniwa, povos falantes do Arawak setentrional). Ele é o “coração/ alma” do seu pai, o Criador Nhiaperikuli, o que implica que ele não é um ser material. O corpo de seu “Espírito” é permeado por buracos, por onde a respiração de sua alma produz uma grande variação de sons, melodias e canções. Todos esses sons, eventualmente, se tornaram canções ancestrais primordiais produzidas por flautas; muitos deles referentes a animais primordiais, peixes ou cantos de pássaros intrinsecamente conectados aos valores e processos reproduzidos pela sociedade Hohodene: parentesco vs afins, feitiçaria contra curandeiros, os primeiros antepassados (que ainda não estavam plenamente humanos) e suas relações. De maneira geral, o Corpo-espírito de Kuwai, depois transformado pelo Pai Criador Nhiaperikuli em flautas e trompetes musicais e sacros, pode ser entendido como os meios de reproduzir a “sociedade” e o “universo”. Além do mais, este trabalho explora “o corpo musical do universo” dos Hohodene. Som e visão são propositalmente conectados como os principais geradores de vida os quais dão princípio e eternamente reproduzirão o mundo. Em minha interpretação, eu busco desvelar as múltiplas camadas de significados relacionadas a esta figura ao utilizar de exegeses nativas que conectam narrativas, representações gráficas (incluindo petroglifos), curas xamânicas e visões, geografia sagrada e cantos sacros. Eu espero mostrar que as noções Hohodene de Self, Cosmos, Ontologia e História estão entrelaçadas em uma abrangente multiplicidade de seres vivos em um ínico material e espiritual “Corpo”. O corpo de Kuwai é considerado o corpo do universo, em que os mundos material e espiritual estão intimamente entrelaçados. Assim, as relações com o mundo espiritual, como as relações com o mundo dos brancos, ou as relações com a categoria de estranhos dentro da sociedade (ou seja, os feiticeiros) são igualmente partes da historicidade indígena no sentido mais básico da palavra, que é a reprodução da sociedade e cosmos no tempo e no espaço. Sociedade não consiste apenas em parentelas (neste caso, fratrias exogâmicas), mas também “outros grupos”, a alteridade, povos fora do círculo de parentelas. A história sagrada para os Baniwa, como lembrado em narrativas e pinturas rupestres, confunde-se com os processos reais e eventos, tais como relações interétnicas com os brancos, e a história das acusações de feitiçaria que deram origem a movimentos proféticos desde o século XIX.

 

Abstract

This paper explores the meanings of “Body” and “Spirit” in relation to one of the most important personages in Hohodene cosmology, the spirit “Owner of Sickness and Sorcery”, named Kuwai. {“Yurupary” in general language] This Great Spirit is an extraordinarily complex synthesis of the Hohodene (and other Baniwa, northern Arawak-speaking peoples) worldview. He is the “heart/ soul” of his father, the Creator Nhiaperikuli, implying that he was not a material being. His spirit “Body” was full of holes from which the breath of his soul produced a very large range of sounds, melodies, and song. All of these sounds eventually became primordial ancestral songs produced by material flutes; many of them refer to primor- dial animal, fish, or birdsongs intrinsically connected to core values and processes reproduced in Hohodene society: kinship vs affines, sorcery vs healers, the first ancestors (who were not yet fully human) and their relations. Taken as a who- le, the spirit-Body of Kuwai, later transformed by the Creator Father Nhiaperikuli into sacred musi- cal flutes and trumpets, can be understood as the means for reproducing ‘society’ and the ‘universe’. Thus, this paper explores the Hohodene “musical body of the universe”. Sound and vision are purposefully connected as the principal life-forces that gave rise to, and will eternally reproduce the world. In my interpretation, I seek to unravel multiple layers of meaning related to this figure by utilizing native exegeses that connect narratives, graphic representations (including petroglyphs), shamanic cures and visions, sacred geography, and sacred chants. I hope to show that Hohode- ne notions of Self, Cosmos, Ontology, and History are intertwined in an all-encompassing multiplicity of living entities into one material and spiritual “Body”. The body of Kuwai is considered the body of the universe, in which the material and spiritual worlds are inextricably interwoven. Thus, relations with the spirit-world, like relations with the world of white men, or relations with the category of outsiders within society (i.e., the sorcerers) are all equally parts of indigenous historicity in the most basic sense of the word, that is, the reproduction of society and cosmos in time and space. Society consists not only of kingroups, (in this case, exogamous phratries), but also, “other groups”, alterity, peoples outside the circle of kingroups. Sacred history for the Baniwa, as remembered in narratives and petroglyphs, is intertwined with actual processes and events such as interethnic relations with the Whites, and the history of sorcery accusations which have given rise to prophet movements ever since the 19th century.

 

 


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DOI: http://dx.doi.org/10.18542/arteriais.v1i1.2103

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