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Pintura Revisionista, Narrativas Contra o Silêncio

Marcela Cantuária

Resumo

Marcela Cantuária estabelece um caminho no qual a pintura é a matriz para a expansão dos pensamentos sobre o mundo ao seu redor. De apropriações de imagens da história, do universo da política e de como a sociedade faz circular acontecimentos, a artista articula tanto as referências advindas da mídia, quanto os documentos de acervo e estudos acadêmicos que terminam por alimentar suas pesquisas que se realizam em suas telas.

Cantuária olha as lutas sociais, os embates históricos de classes, o racismo, o protagonismo feminino, as percepções acerca das forças que operam nas estruturas sociais e ativa signos da cultura e do inconsciente para construir um projeto artístico que desordena estruturas simbólicas de poder.
Povos originários, mães da Praça de Maio, militantes, guerrilheiras, animais e natureza figuram em suas obras disparando criticidade sobre os processos violentos que se estabelecem na América Latina. Catástrofe, racismo estrutural, violências perpetradas pelo capitalismo neoliberal. A despeito de tantas evidências que revelam o colonialismo presente nas raízes, e sangram o povo, sua obra nos conduz a um desejo de reparação, dívida histórica dos processos de exploração, na busca do Bem Viver, das formas de vida em harmonia com a natureza. Seus trabalhos intencionam ativar um dispositivo de conteúdo que denomina de “anti-aminéico”, como mecanismo de revisão histórica contra os múltiplos processos de apagamento dos mais vulneráveis pela história oficial e pelos regimes totalitários.

Além dos conteúdos densos, a pintura de Marcela Cantuária traz na elaboração das imagens um repertório visual farto e complexo, uma colagem de temporalidades e referências imagéticas, por vezes anacrônicas, que projetam um inconsciente coletivo, materializadas em cores vibrantes e contrastantes. Nada é gratuito na construção simbólica da artista. Política, supra-partidária, Cantuária enuncia sobre as políticas dos corpos, da violência imposta ao cidadão no dia a dia das cidades e do campo. Sua obra testemunha a violência que o homem impõe a si mesmo; todavia nos convida, ao fim de tudo, e de forma crítica, áspera e bela, a ter esperança.

Orlando Maneschy


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DOI: http://dx.doi.org/10.18542/arteriais.v5i8.8915

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