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A formação do território a nível local e a emergência da ação coletiva. Análise das trocas simbólicas em duas coletividades locais da região de Marabá, Amazônia Oriental

Iran Veiga, Christophe Albaladejo

Resumo

Neste artigo, a “localidade” é vista como o espaço social e geográfico da ação no cotidiano das famílias rurais, através da qual estas conseguem inventar formas de vida ou de desenvolvimento específicas, não previsíveis por modelos regionais de evolução da agricultura. Realizamos entrevistas a totalidade das famílias residentes em duas localidades vizinhas da fronteira agrária de Marabá (Amazônia oriental): Sítio Novo e Vera Cruz. Apesar de vizinhas, elas seguiram caminhos de desenvolvimento muito diferentes e hoje as capacidades de ação de cada uma sobre suas respectivas situações dão bastantes diferentes.

            Procuramos entender o porquê destas diferenças a partir das histórias individuais e coletivas das famílias, assim como dos tipos e da morfologia das redes de relações sociais entre estas famílias e com o “exterior” das localidades. Observamos a importância do parentesco na constituição da sociabilidade local, em combinação com outros tipos de relações, como as de vizinhança ou de “moradia” (que frequentemente está associada ao parentesco) Distinguimos três tipos principais de relações, em função do tempo e da simetria em jogo nas relações: as trocas pagas em dinheiro, as trocas estabelecendo uma certa simetria e as trocas assimétricas. Esta perspectiva permitiu explicitar uma certa “gramática” local das relações sociais e melhor evidenciar as diferenças entre Sítio Novo e Vera Cruz.

            Em conclusão, discutimos a natureza do “vínculo social” local na fronteira amazônica e as condições de emergência da ação coletiva. As relações privilegiadas de Sítio Novo com o sindicato local de trabalhadores rurais (que poderiam ser consideradas, em boa medida, clientelista), a qual traz benefícios (como projetos de desenvolvimento etc.) á localidade, é importante para compreender as diferenças observadas, mas não explica tudo. Vera C   ruz também tem seus “benfeitores”, mas não tem capacidade para gerir coletivamente essas relações, as quais ficam restritas a umas poucas famílias da localidade. Em Sítio Novo existe uma forte intensidade de relações entre grupos domésticos, assim como uma grande variedade destas, entre as quais predominam as relações simétricas. Por outro lado, em Vera Cruz existem grupos domésticos grandes mas relativamente isolados, dentro dos quais predominam as relações assimétricas.


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DOI: http://dx.doi.org/10.18542/raf.v1i3.4525

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