Ensaio Fotográfico
Igarapé Preto, o "berço" do Samba de Cacete
André dos Santos
Santos, A.
Como outras comunidades amazôncas que obtiveram a titulação coletiva de suas terras, a comunidade Igarapé Preto é formada por diversas famílias que se reconhecem como remanescentes de quilombos. Ao realizar uma pesquisa arqueológica devido à implantação do sistema de transmissão de energia elétrica, entramos em contato com essa comunidade, muito ativa na defesa de seus direitos e que busca, na paixão pelo samba de cacete, reviver suas tradições.
A comunidade Igarapé Preto está localizada na região do baixo Tocantins, no município de Oeiras do Pará, na fronteira com o município de Baião, sendo cortada pela rodovia BR-422 (Transcametá) e também por uma estrada vicinal conhecida conhecido como ramal da Incobal. A comunidade está inserida em uma área coletiva juntamente com outras 11 comunidades (Pampelônia, Varzinha, Baixinha, França, Cupu, Araquembau, Carará, Costeiro, Teófilo e Igarapezinho) que possuem título de propriedade coletiva definitiva da terra cumprindo-se o disposto no artigo 68 das disposições constitucionais transitórias da Constituição Federal de1988.
Percebe-se um orgulho imenso pela árdua conquista do título da terra conferido às comunidades remanescente de quilombos, além da preocupação de manter as tradições locais e desenvolver ações sustentáveis para a comunidade, nesta região de natureza bela e exuberante.
Na comunidade tradicionalmente tocam e dançam o samba de cacete, que dizem ter nascido na própria comunidade, apesar desta origem ser disputada com Cametá. O ritmo é produzido ao bater-se com cacetes de madeira em um tambor feito de um tronco de madeira oca encimada por couro de veado esticado. A tradição do samba de cacete é perpetuada pelos membros mais velhos da comunidade, sejam homens (que podem tornar-se mestres) ou mulheres. Segundo dizem, o samba de melodias melancólicas e alegres, cujas letras retratam o cotidiano da comunidade, é tocado há quatro gerações entre os quilombolas do baixo Tocantins.
O samba de cacete lembra um pouco os repentes nordestinos, pela improvisação das letras e pela participação das mulheres cantando refrãos que respondem às provocações masculinas, rodeando graciosamente suas coloridas saias em movimentos circulares pelo terreiro.
Segundo o Mestre Domingos dos Santos Machado, tradicionalmente o samba de cacete embalava os mutirões na comunidade, sempre regados a muita cachaça. Hoje o samba de cacete é apresentado em ocasiões festivas ou a convite, não havendo data específica para as apresentações.
Apesar da chegada da energia elétrica e telefone, que trouxeram modificações nos antigos hábitos, percebe-se que o ritmo de vida característico do interior amazônico, que acompanha a cadência calma das águas do Tocantins e dos igarapés da região, permanece através das conversas de fim de tarde, que a vida em comunidade mantém. Crianças brincam livremente nos terreiros e nos igarapés. Os sorrisos estampados nos seus rostos nos deixaram saudosas lembranças.
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