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Implicações da ausência de parâmetros claros de ancestralidade na Antropologia Forense

Valentina da Silva Dias Pereira

Resumo

Este artigo analisa os dados apresentados na dissertação de mestrado intitulada "Negro demais para ser branco, branco demais para ser negro: um estudo sobre ancestralidade a partir de laudos periciais do Departamento de Antropologia Forense do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues". A pesquisa examinou laudos periciais de 2016 a 2020 em Salvador, Bahia, visando criar estatísticas sobre o perfil bioantropológico. Inicialmente, foram revisadas fontes bibliográficas para fundamentar teoricamente o estudo, revelando lacunas na Antropologia Forense brasileira devido à falta de informações sobre o perfil bioantropológico nacional, o que tem levado à dependência de dados de populações menos miscigenadas, como as dos Estados Unidos, Europa e Ásia. O método documental foi utilizado para analisar laudos e boletins de ocorrência, empregando análise estratificada e observação sistemática para compreender dados demográficos e culturais. Observou-se que muitos indivíduos foram classificados de maneira ambígua como “mestiços” e “pardos”, suscitando questões sobre a ausência de parâmetros claros de ancestralidade na prática forense. Com base nisso, questiona-se: quais são as implicações da falta de parâmetros claros de ancestralidade para a Antropologia Forense? O artigo aborda debates sobre identificação racial, métodos de reconhecimento de ancestralidade e a problemática do colorismo, estruturando-se em quatro partes que discutem desigualdades sociais, análises forenses detalhadas, terminologias raciais e as complexidades da categoria racial e identidade no Brasil contemporâneo.

Palavras-chave: Antropologia Forense; Ancestralidade; Identificação Forense; Colorismo; Democracia Racial.


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DOI: http://dx.doi.org/10.1852/c4c.v8i2.18923

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