O REGISTRO ARQUEOLÓGICO NO SOLO: as ocupações humanas na Volta Grande do Xingú - Pará
Resumo
A região do médio Rio Xingu, na parte conhecida como Volta Grande do Xingu, tem um longo histórico de ocupação humana nas suas margens. Prospecções indicaram a existência de um grande número de sítios arqueológicos, e muitos desses com a presença de camadas de solos escurecidas, com a presença de artefatos cerâmicos e líticos. Os horizontes de solos modificados pelo homem, conhecidos na Amazônia como: as Terras Pretas de Índio (TPI). Essas áreas que aparentam ser sítios de habitação, se assentam em pequenos platôs em áreas planas. Como o objetivo de analisar as alterações causadas pelo Homem nas características do solo, foram avaliadas amostras de solo coletadas em diferentes camadas em dois perfis estratigráficos no Sitio Arqueológico Bom Jesus, localizado no município de Senador Porfirio - PA. As amostras foram analisadas quanto aos valores de susceptibilidade magnética (SM), teores semi totais utilizando a técnica de Indução de Plasma Acoplado (ICP-OES) para os teores de Ca, Fe, Mn, Mg, Zn, P, Ca, Mg, Sr e Ba e os teores totais de Ti, Fe, Zn, Mn, Cu e Sr utilizando a técnica da fluorescência de raios X (pXRF). Os resultados mostraram alterações na composição química com aumentos dos teores de P, Ca, Zn, Mn, Mg, Sr, Ba e Cu em várias camadas, em comparação com os valores suprajacentes dos perfis. Os aumentos da concentração destes elementos são causados pelas adições de resíduos orgânicos e manejo do ambiente. A elevada quantidade de fragmentos cerâmicos e líticos até mais de 50 cm de profundidade permite inferir uma longa e intensa ocupação do local. O aumento da SM nos horizontes antrópicos também corrobora uma ocupação intensa dessas áreas, com a elevação dos valores de SM provavelmente como consequência do aquecimento do solo abaixo de fogueiras e fornos para queima de cerâmica (fenômeno da termoremanência). A avaliação de parâmetros físico químicos e mineralógicos do solo pode auxiliar a delimitação dos sítios arqueológicos onde os artefatos são escassos ou inexistentes. Os horizontes de solos antrópicos são um registro das atividades humanas e podem ser considerados artefatos arqueológicos. A preservação deste legado de civilizações pretéritas é dever da nossa sociedade.
Palavras-chave: Terra Preta de Índio, horizontes antrópicos, susceptibilidade magnética, ICP, pXRF.
Texto completo:
PDFReferências
Adalberto, P. d. P. 2002. Brasil: Amazônia Xingu. Brasília: Senado Federal.
Anand, R. R.; Gilkes, R. J. 1987. Iron oxides in lateritic soils from Western Australia. Journal of Soil Science, 38(4): 607-622.
Arroyo-Kalin, M. 2009. Steps towards an ecology of landscape: the pedo-stratigraphy of anthropogenic dark earths. In: Woods, W.; Teixeira, W. G.; Lehmann, J.; Steiner, C.; Winklerprins, A.; Rebellato, L. (ed.). Amazonian Dark Earths: Wim Sombroek’s vision. Dordrecht: Springer. pp. 33-83.
Birk, J.; Teixeira, W. G.; Neves, E. G.; Glaser, B. 2011. Faeces deposition on Amazonian Anthrosols as assessed from 5β-stanols. Journal of Archaeological Science. 38: 1209-1220.
Castro, A. 2020. Um regime de opulência: grupos ceramistas da Volta Grande do rio Xingu. Dissertação de Mestrado. Departamento de Antropologia, UFPA, Belém.
Coudreau, H. 1977. Viagem ao Xingu. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp. 166 p.
Faria, E. da S. S. 2016. Viagem Etno-histórica e Arqueológica ao Médio Xingu: Memória e História Indígena na Amazônia. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Antropologia, Universidade Federal do Pará, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Belém.
IBGE - EMBRAPA. 2001. Mapa de solos do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE/EMBRAPA, mapa, color., 107 x 100 cm, escala 1:5.000.000.
Kalnicky, D. J.; Singhvi R. 2001. Field portable XRF analysis of environmental samples. Journal of Hazardous Materials 83: 93-122.
Kämpf, N.; Kern, D. C. 2005. O solo como registro da ocupação humana pré-histórica na Amazônia. In: Vidal-Torrado, P., Alleoni, L. R. F.; Cooper, M.; Silva, A. P. D.; Cardoso, E. J. (Ed.). Tópicos em ciência do solo. Viçosa: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo. Pp. 277-320.
Kern, D. C.; Costa, M. L. D.; Ruivo, M. D. L. P. 2008. Métodos e técnicas geoarqueológicas para caracterização de solos com Terra Preta na Amazônia: contribuições para a arqueologia. In: Rubin, J. C. de; Silva, R. T. (Ed.) Geoarqueologia: teoria e prática. Goiânia: UCG. Pp. 133-152.
Lima, H. N.; Shaefer, C .E. R.; Mello, J. W. V.; Gilkes, R. J.; Ker, J. C. 2002. Pedogenesis and pre-Colombian land use of “Terra Preta Anthrosols”(“Indian black earth”) of Western Amazonia. Geoderma (110): 1-17.
Macedo, R. S.; Teixeira, W. G. ; Corrêa, M. M.; Martins, G. C. ; Vidal-Torrado, P. Pedogenetic processes in anthrosols with pretic horizon (Amazonian Dark Earth) in Central Amazon, Brazil. PLoS One, v. 12, p. e0178038, 2017.
Macedo, R. S.; Teixeira, W. G.; Lima, H. N.; Souza, A. C. G. de; Silva, F. W. R.; Encimas, O. C.; Neves, E. G. 2019. Amazonian dark earths in the fertile floodplains of the Amazon River, Brazil: an example of non-intentional formation of anthropic soils in the Central Amazon region. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Série Ciencias Humanas, pp. 207-227.
Melquiades, F. L.; Bastos, R. O.; Biasi, G. E.; Parreira, P. S.; Appoloni, C. R. 2011. Granulometry and moisture influence for in situ soil analysis by portable EDXRF. In V. R. Vanin (Ed.). AIP Conference Proceedings. 1351(1):317-320.
Nimuendaju, C. 1948. Tribes of the lower and middle Xingu river. In: Julian H. Steward (ed.). Handbook of South American Indians. New York. 3: 213-243.
NIST - National Institute of Standards & Technology. Certificate of Analysis Standard Reference Material® NIST 2710a, NIST 2711a, NIST 2709a. Disponível em: https://www.nist.gov/. Acesso em: 10 mai. 2017.
Nogueira, J. N.; Teixeira, W. G.; Vasques, G de M. 2017. Uso de espectrômetro de fluorescência de raios X portátil (pXRF) para avaliação de teores de titânio (Ti) em amostras de solo. In Anais do Seminário Pibic Embrapa Solos - 2016-2017. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, pp. 32-35, 3p.
Resende, M.; Santana; Franzmeier, D. P. ; Coey, J. M. D. 1988. Magnetic Properties of Brazilian Oxisols. IN International Soil Classification Workshop, 8., Rio de Janeiro: Proceedings.
Santos, H. G. dos; Jacomine, P. K. T.; Anjos, L. H. dos; Oliveira, V. A. de; Lumbreras, J. F.; Coelho, M. R.; Almeida, J. A. de; Araújo Filho, J. C. de; Oliveira, J. B. de; Cunha, T. J. F. 2018.
Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. 5. ed. rev. e ampl. Brasília, DF: Embrapa
Schaan, D. P.; Kern, D. C.; Frazao, F. J. 2009. An assessment of the cultural practices behind the formation (or not) of amazonian dark earths in Marajó island archaeological sites. In: Woods, W.; Teixeira, W; Lehmann, J.; Steiner, C.; Winklerprins, A. Amazonian Dark Earths: wim sombroeks vision. Berlin: Springer, pp. 127-141.
Schaefer, C. E. G. R.; Lima, H. N.; Gilkes, R. J.; Mello, J. W. V. 2004. Micromorphology and electron microprobe analysis of phosphorus and potassium forms of an Indian Black Earth (IBE) Anthrosol from Western Amazonia. Australian Journal of Soil Research 42: 401-409.
Silva, F. W. R.; Lima, H. N.; Teixeira, W. G.; Motta, M. B.; Macedo, R. S. 2011. Caracterização química e mineralogia de solos antrópicos (Terras Preta de Índio) na Amazônia Central. Revista Brasileira de Ciência do Solo 35: 673-681.
Silva, W. F. do V., Barbosa, L. A. de S., Santos, M. F. da S. 2017. Programa de Estudos Arqueológicos e Educação Patrimonial da área de influência do Projeto Volta Grande, Senador José Porfirio, Pará. 1ed. Belém: Inside Consultoria Cientifica, 635 p.
Snethlage, E. 1912. A travessia entre o Xingú e o Tapajoz. Boletim do Museu Goeldi, Belém 7: 49-92.
Söderström, M.; Eriksson, J.; Christian, I.; Schaan, D. P.; Stenborg, P.; Rebellato, L.; Piikki, K. 2016. Sensor mapping of Amazonian Dark Earths in deforested croplands. Geoderma, 281(1): 58-68.
Steinen, K. 1886. von den. Durch Central-Brasilien: Expedition zur Erforschung des Schingú im Jahre 1884. F. A. Brockhaus, Leipzig, 440 p.
Steinen, K. 1894. von den. Unter den Naturvölkern Zentral-Brasiliens. Reiseschilderungen und Ergebnisse der zweiten Schingú-Expedition 1887–1888. Geographische Verlagsbuchhandlung von Dietrich Reimer, Berlin, 572 p.
Sternberg. 2014. Magnetic properties and archaeomagnetism. In: Brothwell, D. R.; Pollard, A. M. Handbook of Archaeological Sciences. New Jersey: Wiley.
Taube, P. S.; Hansel, F. A; Madureira, L. A. D. S.; Teixeira, W. G. 2012. Organic geochemical evaluation of organic acids to assess anthropogenic soil deposits of Central Amazon, Brazil. Organic Geochemistry, 58: 96-106.
Teixeira, W. G., Lima, R. A. de. 2016. O solo modificado pelo homem (solo antrópico) como artefato arqueológico. In: Seminário Preservação de Patrimônio Arqueológico. Rio de Janeiro. Anais. Rio de Janeiro: Museu de Astronomia e Ciências Afins, 4:123-147.
Teixeira, W. G.; Kern, D. C.; Madari, B. E.; Lima, H. N.; Woods, W. 2010. As Terras Pretas de Índio da Amazônia: sua caracterização e uso deste conhecimento na criação de novas áreas. Manaus: Editora da Universidade Federal do Amazonas (EDUA): Embrapa Amazônia Ocidental. 420 p.
Teixeira, W. G.; Lumbreras, J. F.; Nogueira, J. do N. P.; Shinzato, E. 2019. A susceptibilidade magnética e a condutividade elétrica aparente em amostras de solos da XII Reunião Brasileira de Classificação e Correlação de Solos: RCC de Rondônia. In: Lumbreras, J. F.; Silva, L. M. da; Anjos, L. H. C. dos; Oliveira, V. A. de; Wadt, P. G. S.; Pereira, M. G.; Delarminda-Honoré, E. A.; Burity, K. T. L. (ed.). Guia de campo da XII Reunião Brasileira de Classificação e Correlação de Solos: RCC de Rondônia. Brasília, DF: Embrapa. E-book. cap. 9.
Teixeira, W. G.; Shinzato, E.; Lumbreras, J. F.; Nogueira, J. do N. P. 2018. A susceptibilidade magnética e a condutividade elétrica aparente de amostras dos solos da XI Reunião de Classificação e Correlação de Solos (RCC de Roraima). In: Batista, K. D.; Lumbreras, J. F.; Coelho, M. R.; Oliveira, V. A. de; Vale Júnior, J. F. do (ed.). Guia de campo da XI Reunião Brasileira de Classificação e Correlação de Solos: RCC de Roraima. Brasília, DF: Embrapa, E-book. cap. 8.
Terraplus. 2010. Conductivity meters. Disponível em: https://terraplus.ca/product-details/conductivity-meters. Acesso em: 4 nov. 2020.
Weindorf, D.C.; Bakr, N., Zhu, B. 2014. Advances in portable X-ray fluorescence (PXRF) for environmental, pedological, and agronomic applications. Advances in Agronomy 128:1-45.
Woods, W. 2010. O solo e as ciências humanas: interpretação do passado. In: Teixeira, W. G.; Kern, D. C.; Madari, B. E.; Lima, H. N.; Woods, W. As terras pretas de Índio da Amazônia: sua caracterização e uso deste conhecimento na criação de novas áreas. Manaus: EDUA: Embrapa.
WRB USS Working Group. 2015. World Reference Base for Soil Resources 2014, update 2015 International soil classification system for naming soils and creating legends for soil maps. World Soil Resources Reports No. 106. FAO, Rome.
DOI: http://dx.doi.org/10.1852/c4c.v7i2.18971
Apontamentos
- Não há apontamentos.
Direitos autorais 2025 Wenceslau Geraldes Teixeira, Wagner Fernando da Veiga e Silva, Leticia Pimentel, Denise Pahl Schaan

Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-SemDerivações 4.0 Internacional.
Caderno 4 Campos (C4C) © 2017 - criado por Discentes do PPGA/IFCH/UFPA, Ney Gomes e Daniel da Silva Miranda; atualizado em 2025, por Ewerton D. Tuma Martins para o Repositório de Periódicos da UFPA. Licenciado sob a Creative Commons Atribuição-SemDerivações 4.0 Internacional.
As/os autoras/es que publicam no Caderno 4 Campos (C4C) retêm os direitos autorais e morais de seu trabalho, licenciando-o sob a Creative Commons Atribuição-SemDerivações 4.0 Internacional que permite que os artigos sejam reutilizados e redistribuídos sem restrições, desde que o trabalho original seja citado corretamente, não sendo permitidos derivados ou adaptações do trabalho original.