CHEFIAS NA ARQUEOLOGIA DA COSTA ATLÂNTICA DO AMAPÁ: UMA NOVA BRISA SOBRE UMA VELHA DISCUSSÃO DA FOZ DO AMAZONAS
Resumo
Desde os anos 50, o tema da chefia vem sendo discutido na arqueologia amazônica, em especial na região da foz do rio Amazonas, tomando maior fôlego nos anos dois mil sob o rótulo de cacicados amazônicos, quando alcançou o seu ápice e acabou em desuso, uma vez que focou mais em uma interpretação voltada para estágios de evolução social do que sobre diferentes
formas de organização sociopolítica. Ao longo dos últimos quinze anos, a arqueologia do Amapá teve um crescimento exponencial com o fortalecimento e a criação de novas instituições de pesquisa. Como resultado desse crescimento é possível delinear um modelo de ocupação arqueológico que tem como premissa a existência de duas grandes áreas culturais com base na
identificação de diferentes conjuntos de cultural material, sendo uma delas o Interior do estado e a outra o Setor Costeiro, este último dividido em Costa Estuarina e Costa Atlântica. Acreditando que essa divisão, além de espacial/ambiental, pode também estar relacionada com uma auto identificação dos grupos que habitaram a porção leste das guianas, o presente trabalho
tem como objetivo dar novo ar ao debate arqueológico da noção de chefia nessa porção da Amazônia a partir da retomada do conceito de sociedades-contra-o-Estado de Pierre Clastres e das suas possíveis relações com as recentes discussões da antropologia sobre o assunto, pensando em como um chefe/dono fluído e em constantes transformações pode estar relacionado com a mobilização de pessoas e a produção e manutenção do modo de vida e bem estar social por intermédio da mediação das relações de alteridade entre o grupo local e os outros, humanos ou não.
Palavras-chave: Chefia; Arqueologia Amazônica; foz do Amazonas; Amapá.
Texto completo:
PDFReferências
Barreto, B.S. 2018. Materialidade e Espaço Social: uma arqueologia de unidades domésticas no
maciço oriental das guianas. Projeto de Doutorado (MAE-USP). São Paulo-SP.
Bourdieu, P. 2007. A economia das trocas simbólicas (6a ed.). São Paulo: Perspectiva. 361pp.
Butt-Colson, A. 1983-1984. Conclusion. Antropologica. 59-62 : 359-383.
Cabral, M. P. & Saldanha, J. D. M. 2008: Paisagens Megalíticas na Costa Norte do Amapá. Revista
de Arqueologia (Sociedade de Arqueologia Brasileira. Impresso), v. 21: 3-20, 2008.
_____. 2010. Ocupações pré-coloniais no Setor Costeiro Atlântico do Amapá. Edithe Pereira;
Vera Guapindaia. (Org.). Arqueologia Amazônica. Belém: Museu Paraense Emilio Goeldi,
, v. 1: 49-60
Clastres, P. [1977] 2014. Arqueologia da violência: pesquisas de antropologia política. São Paulo: Cosac
& Naify. 384pp.
Coutet, C.. 2009. Archéologie du Littoral de Guyane Française. Thèse (Doutorado em Archéologie) -
Université Paris 1 (Panthéon-Sorbonne).
Danowski, D. & Viveiros de Castro, E. 2014. Há mundo por vir? Ensaio sobre os medos e os
fins. Desterro [Florianópolis]: Cultura e Barbárie: Instituto Socioambiental p. 176.
Dreyfus, S. 1983-1984. Historical and Political Anthropological Inter-connections : the
multilinguistic indigenous polity of the « Caribe » Islands and Mainland Coast from the
th to the 18th century. Antropologica. 59-62 : 39-55.
Eriksen, L. 2011. Nature and Culture in Prehistoric Amazonia Using G.I.S. to reconstruct
ancient ethnogenetic processes from archaeology, linguistics, geography, and
ethnohistory Human Ecology Division, Lund University.
Fausto, C. 2017. Chefe Jaguar, Chefe Árvore: Afinidade, Ancestralidade e Memória no Alto
Xingu. Mana 23(3): 653-676, 2017
Gallois, D.T. 2005. Redes de Relações nas Guianas. São Paulo : Humanitas.
Goeldi, E.A. 1905. Excavações Archeologicas em 1895. 1ª parte: As Cavernas Funerarias
Artificiaes dos Indios Hoje Extinctos no Rio Cunany (Goanany) e sua Ceramica. Série
Memórias do Museu Goeldi, Pará.
Gordon, C. 2014. Bem Viver e Propriedade: o problema da diferenciação entre os Xikrin-
Mebêngôkre (Kayapó). Mana 20(1): 95-124.
Green, L.F.; Green, D.; Neves, E.G. 2003. Indigenous Knowledge and Archaeological
Science:The Challenges of Public Archaeology in the Reserva Uaça. Journal of Social
Archaeology. 3 (3): 365-397.
Guerreiro, A. 2015. Ancestrais e suas sombras: Uma etnografia da chefia Kalapalo e seu ritual
mortuário. Campinas: Editora da Unicamp.
Hilbert, P.P. 1957. Contribuição à Arqueologia do Amapá: Fase Aristé. Boletim do Museu Paraense
Emílio Goeldi, Nova Série, Antropologia, n. 1, p. 1-37.
Lau, G.F. 2004. Object of Contention: an Examination of Recuay-Moche Combat Imagery.
Cambridge Archaeological Journal, v. 14, n. 2, p. 163-84.
Lima, T. S. 2005. Um Peixe Olhou Para Mim. O povo Yudjá e a perspectiva. São Paulo: UNESP/ ISA/
NUTI.
Linné, S. 1928. Les Recherches Archéologiques de Nimuendajú au Brésil. Journal de La Société dês
Américanistes, Tome XX : 71-89.
Meggers, B.J. & Evans, C. 1957.Archeological investigations at the mouth of the Amazon. Bull. American
Ethnology Bull. 167. Washington, D.C.
Neves, E. G. 1998. Paths in Dark Waters: Archaeology as Indigenous History in the Upper Rio Negro
Basin, Northwest Amazon. Tese (Doutorado) - Department of Anthropology, Indiana
University
_____. 1999-2000. O Velho e o Novo na Arqueologia Amazônica. Revista USP, São Paulo, n.
, p. 86-111, dezembro/fevereiro.
Nimuendajú, C. 1986. 104 Mitos Indígenas Nunca Publicados. Rio de Janeiro: Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, n. 21, 1986. p. 86-88.
Overing, J. 1983-1984. Elementary structures of reciprocity: a comparative note on Guianese,
Central Brazilian, and North-West Amazon sociopolitical thought. Antropologica. 59-62 : 331-348.
Perrone-Moisés, B. 2015. Festa e guerra. Universidade de São Paulo, São Paulo.
Riviére, P. 1983-1984. Aspects of Carib Political Economy.Antropológica, 59–62, 349–358.
Rostain, S. 1994. L’occupation Amérindienne Ancienne Du Littoral De Guyane. Tese de Doutoramento.
Paris, Centre de Recherche en Archaeologie Precolombienne (CRAP), Université de Paris I. Pág. 412
_____. 2011. Que Hay de NuevoAl Norte. Apuntes sobre el Aristé. Revista de Arqueologia
(Sociedade de Arqueologia Brasileira), 2011. São Paulo: SAB, 2011, V. 24 nº 1. pg: 10-
Saldanha, J.D.M. 2016. Poços, potes e pedras: uma longa história indígena na Costa da Guayana.
Tese (Doutorado em Arqueologia) - Museu de Arqueologia e Etnologia,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017.
_____. 2018. Relatório Final de Campo dos Resgates Arqueológicos nos Sítios Registrados no
Canteiro de Obras e REservatório da UHE Cachoeira Caldeira, AP. Macapá, IEPA.
Saldanha, J.D.M. & Cabral, M.P. 2010. A Arqueologia do Amapá: re-avaliação e novas
perspectivas. In: Edithe Pereira; Vera Guapindaia. (Org.). Arqueologia Amazônica. Belém:
Museu Paraense Emilio Goeldi, 2010, v. 1, p. 95-112.
_____. 2014. A longa história indígena na costa norte do Amapá. Anuário Antropológico/2013,
Brasília, UnB, 2014, v. 39, n. 2: 99-114
Saldanha, J. D. M.; Cabral, M. P.; Nazare, A. S.; Lima, J. J. S.; Silva, M. B.F. 2016. Os Complexos
Cerâmicos do Amapá: proposta de uma nova sistematização. In: Cristiana Barreto;
Helena Pinto Lima; Carla Jaimes Betancourt. (Org.). Cerâmicas arqueológicas da Amazônia:
rumo a uma nova síntese. 1 ed. Belém: IPHAN / Museu Paraense Emílio Goeldi, 2016, p.
-96.
Silva, M.B.F. 2016. Aldeias e Organização Espacial dos Povos Produtores da Cerâmica Aristé: Contribuições
para a Arqueologia das Unidades Habitacionais da Costa Atlântica do Amapá. Dissertação
(Mestrado) – Universidade de São Paulo, Museu de Arqueologia e Etnologia, Programa
de Pós-Graduação em Arqueologia. 245 p.
Silva, M.B.F. 2017. Uma História de Longa Duração na Terra Indígena Uaçá: Arqueologia,
Paisagem e Memória na Costa Atlântica do Amapá. Projeto de Pesquisa (Doutorado) –
Universidade de São Paulo, Museu de Arqueologia e Etnologia, Programa de Pós-
Graduação em Arqueologia. 23 p.
Van Den Bel, M. 2009a. The journal of Lourens Lourenszoon and his 1618-1625 stay among
the Arocouros on the lower Cassiporé River, northern Amapá Sate, Brazil. Bol. Mus. Para.
Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 4 [2]: 303-317.
_____. 2009b. The Palikur Potters: an ethnoarchaeological case study on the Palikur pottery
tradition in French-Guiana and Amapá, Brazil - As Oleiras Palikur: um estudo de caso
etnoarqueológico sobre a tradição cerâmica dos Palikur na Guiana Francesa e no Amapá,
Brasil. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Ciências Humanas, Belém, 4 [1]: 39-56.
Viveiros de Castro, E. 2014. O intempestivo, ainda in: CLASTRES, P. 2014. Arqueologia da
violência: pesquisas de antropologia política. São Paulo: Cosac & Naify. 384pp.
DOI: http://dx.doi.org/10.1852/c4c.v5i1.19043
Apontamentos
- Não há apontamentos.
Direitos autorais 2025 Michel Bueno Flores da Silva

Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-SemDerivações 4.0 Internacional.
Caderno 4 Campos (C4C) © 2017 - criado por Discentes do PPGA/IFCH/UFPA, Ney Gomes e Daniel da Silva Miranda; atualizado em 2025, por Ewerton D. Tuma Martins para o Repositório de Periódicos da UFPA. Licenciado sob a Creative Commons Atribuição-SemDerivações 4.0 Internacional.
As/os autoras/es que publicam no Caderno 4 Campos (C4C) retêm os direitos autorais e morais de seu trabalho, licenciando-o sob a Creative Commons Atribuição-SemDerivações 4.0 Internacional que permite que os artigos sejam reutilizados e redistribuídos sem restrições, desde que o trabalho original seja citado corretamente, não sendo permitidos derivados ou adaptações do trabalho original.