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ALGUMAS QUESTÕES SOBRE A SAÚDE WARAO NO BRASIL

Dassuem Reis Nogueira

Resumo

A proposta deste texto é relatar e apontar hipóteses a situações recorrentes na vivência dos indígenas venezuelanos da etnia Warao nos serviços de saúde no Brasil. Meu objetivo é pensar a questão considerando estudos sobre saúde e migração e saúde indígena. Os relatos têm como base minha experiência como antropóloga na equipe de assistência social da Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social (SEMTRAS), que atende aos Warao na cidade de Santarém (PA), de julho a dezembro de 2018. Assim como faço uso de informações obtidas por meio de redes de comunicação com diferentes entidades e por reportagens referentes aos modos quais produzem suas condições de vida no Brasil, especialmente de saúde, sendo este o tema da minha pesquisa de doutorado. Realizei um esforço de apontar questões sobre a vivência dos serviços de saúde pelos Warao. A partir desse esboço, observo que o serviço de saúde tem sido realizado a partir do que é possível oferecer aos Warao, e não a partir de suas reais demandas. É preciso observar que suas precárias condições de vida e histórico de violências e vulnerabilidades, 

produzem estados generalizados de doenças infecciosas de pele e contribui significativamente para a letalidade de doenças tratáveis e curáveis. Também aponto que a desconfiança que orienta a abordagem repetida para imunização e exames a fim de assegurar que seus corpos não tragam doenças aos locais, em realidade, estão mantendo um cenário que os expõe a preconceitos e discriminações mais do que realmente cuida de seus estados de saúde. O obscurecimento desse contexto produz uma moralização de seus modos de vida, os culpabiliza por suas mazelas e os coloca como grupo indesejável.

Palavras-chave: warao – saúde indígena – migração


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DOI: http://dx.doi.org/10.1852/c4c.v3i2.19127

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