A Antropologia da Saúde e os Itinerários Terapêuticos: Perspectivas a partir das religiosidades de matriz africana
Resumo
Este artigo analisa os itinerários terapêuticos no contexto das religiões de matriz africana, considerando
as tensões e articulações entre os saberes biomédicos e os saberes tradicionais afro-brasileiros. A partir
de uma abordagem qualitativa e interpretativa, o estudo discute como saúde, doença, vida e morte são
compreendidos e atravessados por dimensões espirituais, sociais e culturais. Destaca-se o papel dos
terreiros como espaços de cuidado e reorganização simbólica da experiência do sofrimento, onde práticas
religiosas se articulam a outros recursos terapêuticos. Ao reconhecer a pluralidade de estratégias utilizadas
pelos sujeitos em seus percursos de busca por cura, o artigo contribui para uma compreensão ampliada
dos processos de saúde-doença e evidencia a importância da Antropologia da Saúde como ferramenta
analítica para refletir sobre essas dinâmicas.
Palavras-chave Itinerários terapêuticos; religiões de matriz africana; saúde e espiritualidade; saberes
tradicionais; Antropologia da Saúde.
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