MOARA – Revista Eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Letras ISSN: 0104-0944

Moara - Revista Eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Letras - PPGL da Universidade Federal do Pará (UFPA), Qualis A3, torna pública a chamada para a submissão de artigos científicos destinados a compor o Número 72, cuja temática trata sobre “Ontocosmologias indígenas e estudos literários”, organizado pelos professores Adalberto Müller (UFF), Alexandre Nodari (UFSC) e Marina dos Santos Ferreira (UFSC) a ser publicado no primeiro semestre de 2026. O envio dos textos deve ser realizado até o dia 10 de outubro de 2025, por doutores e discentes de pós-graduação strictu sensu em coautoria com doutores.

 Em tempos de agravamento das crises climáticas e, portanto, de urgência por mudanças nos modos de ser e de se relacionar com outros seres (humanos e não-humanos), este simpósio pretende abordar as margens e cruzar as fronteiras de diálogo entre a literatura e os saberes/práticas ancestrais dos povos originários, pensando a literatura como forma de “antropologia especulativa” (Nodari) que situe tais saberes e práticas frente às proposições cosmopolíticas e pluriversais (Stengers, Latour, Escobar). Assim, antes de partir para o mero confronto ou diferenciação polarizada (p. ex., entre “centro/margem”, “original/cópia”, “metrópole/periferia”; “nacional/cosmopolita”; “escrita/oralidade” etc.) queremos pensar e passar por margens e por fronteiras, lá onde as ideias de inscrição, de rastro e de traço criam heterotopias, onde o método volta a ser caminho e passagem, lugar de transversalidade de saberes e de horizontalidade das relações entre sujeito e objeto. É nessa condição que acreditamos ser possível repensar os pontos de ruptura e de sutura da tradição humanista e da modernidade com as ontocosmologias não-modernas ou extra-modernas. Trata-se de pensar, assim, a inscrição histórica (o rastro, a contra-escrita, as marcas) de outros saberes que permanecem ou permaneceram silenciados pela tradição colonial alienígena (moderna) que se instalou em Abya Yala – ou o grande e antigo continente que os europeus chamaram de América. Considera-se que tal tradição sempre teve a seu serviço o que se pode chamar de uma epistemologia branca, que via de regra operou tacitamente no sentido de escrever sobre (e sobrescrever) as formações discursivas e “literaturas menores” e/ou subalternizadas, as quais, em contrapartida, sempre foram (contra-)escrevendo uma outra História, e inscrevendo outros sentidos e outras formações no corpo heteróclito (e heterotópico) do sistema colonizador. Vale recordar que, via de regra, tais saberes/práticas (cosmologias, epistemologias ou ontologias) não fizeram parte nem da “formação” das literaturas nacionais nem da fundamentação econômica e jurídica de Estados que se estruturaram justamente sobre os corpos e territórios dos excluídos (inclusive os corpos animais e vegetais). Embora a história da violência originária seja incontornável, inclusive atuando de modo a perpetuar e manter as estruturas de silenciamento, é importante notar que não se trata apenas de evocá-la na formação moderna, mas de abrir-se à escuta efetiva de vozes, corpos e saberes tradicionalmente subalternizados. Trata-se, em outras palavras, a partir da escuta, de procurar traduzir essas outras vozes, ou os rastros dessas outras vozes, que muitas vezes falaram (direta ou indiretamente) em suas línguas de origem – como as línguas mesoamericanas e andinas e sub-equatorianas –, seguindo as lições dos próprios nativos que, como escritores, artistas, pensadores e tradutores, têm estranhado o que se entende por língua, literatura, Nação e mesmo mundo. Queremos insistir, nesse sentido, sobretudo no aspecto de linguagem que fundamenta esta proposta, pois, mais do que ouvir o que fala (ou não) o subalterno, trata-se de escutar o “como” da sua fala, ou seja, de escutar em sua(s) própria(s) língua(s), ou nas línguas que surgem de uma relação (Glissant) ou das múltiplas formas e línguas de contato e de tradução. Desse modo, esperamos contribuições que possam refletir sobre – e mais que refletir, fazer trabalhar – os regimes de multilinguismo e de heteroglossia que poderiam fomentar a discussão sobre Estados plurinacionais, que reconheçam as suas fronteiras de dentro. Nesse sentido, a literatura comparada é tomada aqui como um território onde se tornam possíveis várias formas de relação e de tradução, um entrelugar heterogêneo e heterotópico, em que a comparação não se dá entre objetos literários pressupostos como equivalentes (um romance russo e um conto brasileiro, sistemas ou formações literárias de diferentes regiões, etc.), mas entre práticas verbais que, de saída, são tomadas como equívocas (Viveiros de Castro), pois se embasam em metafísicas e mundos de referências distintos.

Todo o processo de submissão e avaliação deverá ser feito e acompanhado pelo site: https://periodicos.ufpa.br/index.php/moara/login. 

Para a elaboração de seus trabalhos, os autores devem observar as normas de publicação do periódico. https://periodicos.ufpa.br/index.php/moara/about/submissions#authorGuidelines.

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