QUE ROSTO TEM PIERRE RIVIÈRE? Subjetividade e memória do sujeito criminoso no cinema
Resumo
Este artigo propõe a investigação dos processos de constituição do rosto criminoso no cinema, considerando a memória das imagens e os saberes produzidos pelo discurso fílmico como compositores de uma trama enredada na configuração de um sujeito comprometido historicamente com a desordem jurídica e social. Entendemos ser importante observar o rosto criminoso no dispositivo fílmico como acontecimento em uma rede de práticas discursivas que, em um conjunto de regras históricas determinadas no tempo e no espaço, definem e possibilitam que a cristalização desse sujeito como irregular torne-se reconhecível desde a tela do cinema até as relações sociais entre as quais todos nós existimos. Nesta presente análise apresentaremos a discussão a partir do filme Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, minha irmã e meu irmão (1976), dirigido por René Allio e baseado no livro homônimo organizado no Collège de France, em 1973, por um grupo de estudiosos sob a coordenação de Michel Foucault, trabalho este que discutiu as relações entre os saberes da Psiquiatria e da Justiça Penal na constituição e institucionalização do sujeito criminoso. Entendemos que em sua obra, Foucault produziu uma história dos diferentes modos de subjetivação do ser humano em nossa cultura e esclareceu como as subjetividades são constituídas pelo discurso e pela história, fazendo eclodir a relação entre linguagem, memória e sociedade na base desta reflexão. São de grande relevância para essa pesquisa os estudos que compreendem a memória enquanto composta por redes e trajetos que atualizam discursos e práticas historicamente constituídos, sob uma perspectiva que abre vias de associação no presente. Além do aparato conceitual foucaultiano, tomaremos como outras referências teóricas importantes os trabalhos de Jean Jacques-Courtine sobre o corpo, a história do rosto e a intericonicidade, bem como alguns aspectos pesquisados pelas teorias do cinema.
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PDFDOI: http://dx.doi.org/10.18542/moara.v2i40.3282