Nova Revista Amazônica

Intersecções Afro-Brasileiras: Uma Análise da Saúde Reprodutiva da Mulher Negra Em Perspectiva Comparada Brasil-Moçambique

Caroline Moreira de Souza, Lízia Adriane Freire Ferreira Gomes

Resumo

Partindo de uma percepção histórica das Grandes Navegações europeias do século XVI e da colonização afro-americana estabelecida pela Coroa portuguesa naquele período, torna-se lógico apreender que Brasil e Moçambique, mesmo que sejam continentalmente distantes, apresentem histórias de formação social semelhantes, marcadas pela colonização e submissão ao eurocentrismo durante um longo período histórico, que assume reflexos contemporâneos no que diz respeito não somente à cultura racista e patriarcalista enraizada, mas também à perpetuação de desigualdades sociais, pobreza e iniquidade de acesso à saúde pública. Diante disso, urge a análise da questão da maternidade e da saúde materno-infantil da população afrodescendente, em uma análise comparada entre ambos os países, evidenciando a persistente negligência das necessidades femininas no período gestacional, referentes ao cuidado pré-natal e à atenção a condições particulares da etnia afrodescendente. Dessa maneira, o presente trabalho objetiva dissertar acerca da saúde reprodutiva da mulher negra no Brasil e em Moçambique, em uma análise histórico-sociológica comparada e articulada aos conhecimentos epidemiológicos modernos, destacando-se a abordagem da predisposição genética afrodescendente à hipertensão arterial e seus impactos na saúde gestacional com as síndromes hipertensivas da gravidez. Como resultado das análises bibliográficas realizadas, vê-se que há duas formas principais em que a hipertensão arterial pode complicar a gravidez: a pré-eclâmpsia e a hipertensão arterial crônica, e ambas as condições são mais frequentes em mulheres pretas, justificando que essas são mais vulneráveis a complicações do parto, gestação de alto risco e morte materno-fetal. Portanto, prova-se urgente a mobilização em prol da intervenção nesse cenário, a partir do desenvolvimento de pesquisas nesse campo de estudo, da organização de políticas de saúde em prol da prevenção dessa problemática, e, sobretudo, por meio da conscientização popular acerca dessa temática que segue pouco abordada, objetivando enfim garantir o direito à maternidade digna no Brasil e em Moçambique.


Palavras-chave

afrodescendência; hipertensão; mulher; saúde reprodutiva.


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DOI: http://dx.doi.org/10.18542/nra.v12i2.16065

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