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Do Passado Racial ao Presente Forense: Rupturas e Permanências na Antropologia Física/Biológica

Valentina da Silva Dias Pereira

Resumo

A Antropologia Física, outrora aliada do racismo científico e da construção de estigmas sobre corpos
considerados desviantes, ocupa hoje — ressignificada como Antropologia Biológica — uma posição
central na produção de justiça e na defesa dos direitos humanos. No Brasil, a disciplina teve papel ativo
na legitimação de políticas eugenistas e hierarquizações raciais, especialmente por meio da Antropologia
Criminal e da apropriação das ideias lombrosianas. Os métodos e técnicas da Antropologia Física
aplicados a fins criminais foram historicamente utilizados para justificar desigualdades e estigmatizações,
ao longo do tempo, passaram por um processo de ressignificação. Atualmente, essas mesmas ferramentas
são mobilizadas pela Antropologia Forense na identificação de desaparecidos, na reparação histórica e na
escuta dos mortos. Este artigo propõe uma análise crítica desse percurso, evidenciando os deslocamentos
epistemológicos e ético-políticos que marcam a atuação bioantropológica contemporânea. A partir de
uma abordagem interdisciplinar, que integra Antropologia, Arqueologia e Genética, argumenta-se que a
ciência pode ser eticamente reorientada, assumindo um papel ativo na reconstrução de identidades, na
preservação da memória e na luta por justiça.

Palavras-chave: Antropologia Biológica; Racismo Científico; Antropologia Forense; Direitos Humanos;

Memória.


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DOI: http://dx.doi.org/10.1852/c4c.v9i1.19278

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