Cabeçalho da página

BIDENS PILOSA L. (PICÃO-PRETO): ASPECTOS ETNOBOTÂNICOS, TERAPÊUTICOS E ALIMENTARES

Jadna Rosso Coral, Caroline Vieira Búrigo, Beatriz Anselmo, Marília Schutz Borges, Sílvia Dal Bó, Vanilde Citadini-Zanette, Angela Erna Rossato

Resumo

Bidens pilosa L. (picão-preto), têm ocorrência confirmada em diversos países, incluindo o Brasil, onde cresce espontaneamente, sendo considerada uma planta invasora em lavouras agrícolas. Tradicionalmente empregada para diversos usos etnomédicos e alimentares, transcende sua classificação como planta indesejada tornando-se elemento central na medicina popular e culinária de diversos povos ao redor do mundo. Pela importância etnobotânica/etnofarmacológica e do uso da espécie no sul do Estado de Santa Catarina, o projeto "Fitoterapia Racional", parceria entre a UNESC e a Pastoral da Saúde, através da técnica de grupo focal estimulou a troca de saberes sobre o picão-preto. Foi realizada revisão bibliográfica/sistematização de dados sobre a espécie e após apresentados os relatos/vivências das Agentes da Pastoral da Saúde. Classificada como Planta Alimentícia Não Convencional (PANC) no Brasil, suas folhas e ramos jovens são consumidos crus ou cozidos, como saladas, farofas, sopas, bebidas como chás e refrigerantes fermentados, entre outros usos. Validada pelo uso tradicional como fitoterápico, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), para tratamento sintomático da icterícia, apresenta aproximadamente 301 compostos químicos incluindo óleos essenciais, considerados os principais constituintes ativos responsáveis pelas diversas ações farmacológicas. No sul de Santa Catarina, as Agentes da Pastoral da Saúde relatam que a espécie é utilizada para hepatite, resfriados, dores de garganta, infecção urinária, candidíase, problemas do útero e para lavar feridas. Nesta atividade, Bidens pilosa destacou seu potencial etnobotânico e etnofarmacológico através de pesquisa bibliográfica e troca de saberes entre a UNESC e a Pastoral da Saúde. O resultado não apenas confirmou o uso tradicional da espécie, mas também ressaltou e revelou aos participantes, seu valor nutricional como PANC. A integração do conhecimento científico com saberes populares, reforça a importância da etnobotânica na valorização e conservação de espécies de plantas subvalorizadas e seu papel na  validação de plantas medicinais pelo modelo tradicional preconizado pela ANVISA.


Palavras-chave

Etnobotânica, Etnofarmacologia, Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC); Fitoterápico, Agroecologia.


Texto completo:

PDF

Referências


ANVISA. Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira (atualizado em 02.01.2024). 2. ed. Brasília, DF: Agência Nacional de Vigilância Sanitária, 2021.

ÁVILA, L. C. ITF: Índice terapêutico fitoterápico: ervas medicinais. 2. ed. Petrópolis: EPUB, 2013.

BHATT, K. C.; SHARMA, N.; PANDEY, A. “Ladakhi tea” Bidens pilosa L. (Asteraceae): a cultivated species in the cold desert of Ladakh Himalaya, India. Genetic resources and crop evolution, [s. l.], v. 56, n. 6, p. 879–882, 2009. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1007/s10722-009-9441-3.

BILANDA, D. C. et al. Bidens pilosa Ethylene acetate extract can protect against L-NAME-induced hypertension on rats. BMC complementary and alternative medicine, [s. l.], v. 17, n. 1, p. 479, 2017. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1186/s12906-017-1972-0.

BORGES, C. C. et al. Bidens pilosa L. (Asteraceae): traditional use in a community of southern Brazil. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, [s. l.], v. 15, n. 1, p. 34–40, 2013. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbpm/a/47rDbb64jsG59HWRZJMgmth/?lang=en.

CARVALHO, J. C. T. Fitoterápicos: anti-inflamatórios: aspectos químicos, farmacológicos e aplicações terapêuticas. SP: Tecmedd, 2004.

CHIANG, Y.-M. et al. Metabolite profiling and chemopreventive bioactivity of plant extracts from Bidens pilosa. Journal of ethnopharmacology, [s. l.], v. 95, n. 2-3, p. 409–419, 2004. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1016/j.jep.2004.08.010.

CORAL, J. R. Bidens pilosa L. in Horto Didático de Plantas Medicinais - UNESC. Criciúma, SC, 2024.

CORRÊA, C.; SCHEFFER, M. C. Boas Práticas Agrícolas (BPA) de Plantas Medicinais, Aromáticas e Condimentares. Curitiba: Instituto EMATER, 2013. (Série Informação Técnica, n. 88). Disponível em: https://www.fitoterapiabrasil.com.br/sites/default/files/documentos-oficiais/bpa-plantas-medicinais-aromaticas-condimentares-ok.pdf.

DIOCESE DE CRICIÚMA. Diocese de Criciúma - SC. Criciúma, SC, 2024. Disponível em: http://www.diocesecriciuma.com.br/.

DUKE, J. A. Duke’s handbook of medicinal plants of Latin America. 1. ed. Boca Raton: CRC press, 2008. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1201/9781420043174.

FLORA E FUNGA DO BRASIL. Bidens pilosa L. in Flora e Funga do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro, 2024. Disponível em: https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB103749.

GBIF. Bidens pilosa L. in Global Biodiversity Information Facility. Copenhagen, Dinamarca, 2024. Disponível em: https://www.gbif.org/pt/species/5391845.

GILBERT, B.; ALVES, L. F.; FAVORETO, R. de F. Monografias de Plantas Medicinais Brasileiras e Aclimatadas: Volume II. Rio de Janeiro : Editora da Fundação Oswaldo Cruz - FIOCRUZ, 2022. v. II Disponível em: https://books.scielo.org/id/p7jsg.

HSU, Y.-J. et al. Anti-hyperglycemic effects and mechanism of Bidens pilosa water extract. Journal of ethnopharmacology, [s. l.], v. 122, n. 2, p. 379–383, 2009. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1016/j.jep.2008.12.027.

KELEN, M. E. B. et al. Plantas Alimentícias e Não Convencionais (PANCs): Hortaliças espontâneas e nativas. 1. ed. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2015.

KNUPP, V. F.; LORENZI, H. Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil: guia de identificação, aspectos nutricionais e receitas ilustradas. São Paulo: Instituto Plantarum de Estudos da Flora., 2014.

LIANG, Y.-C. et al. Bidens pilosa and its active compound inhibit adipogenesis and lipid accumulation via down-modulation of the C/EBP and PPARγ pathways. Scientific reports, [s. l.], v. 6, p. 24285, 2016. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1038/srep24285.

LORENZI, H.; MATOS, F. J. A. Plantas medicinais no Brasil: nativas e exóticas. 3. ed. Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum de Estudos da Flora, 2021.

MS. Informações Sistematizadas da Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS : Bidens pilosa L., Asteraceae (Picão-Preto). Brasília : Ministério da Saúde, 2022. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/informacoes_sistematizadas_relacao_nacional_plantas_medicinais_picao_preto.pdf.

OMS. Directrices de la OMS sobre buenas prácticas agrícolas y de recolección (BPAR) de plantas medicinales. Gienebra: Organización Mundial de la Salud, 2003.

ORECH, F. O. et al. Mineral content of traditional leafy vegetables from western Kenya. International journal of food sciences and nutrition, [s. l.], v. 58, n. 8, p. 595–602, 2007. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1080/09637480701350288.

PEGORARO, C. M. R. et al. Protective effects of Bidens pilosa on hepatoxicity and nephrotoxicity induced by carbon tetrachloride in rats. Drug and chemical toxicology, [s. l.], v. 44, n. 1, p. 64–74, 2021. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1080/01480545.2018.1526182.

ROSSATO, A. E. et al. Fitoterapia racional: aspectos taxonômicos, agroecológicos, etnobotânicos e terapêuticos. Florianópolis, SC: DIOESC, 2012. v. 1 Disponível em: http://repositorio.unesc.net/bitstream/1/1628/2/Fitoterapia%20Racional.pdf.

ROSSATO, A. E. et al. Fitoterapia Racional: Aspectos Taxonômicos, Agroecológicos, Etnobotânicos e Terapêuticos - Ano 2019. In: PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES: VISÃO HOLÍSTICA E MULTIDISCIPLINAR - VOLUME 2. Guarujá, SP: Editora Científica Digital, 2022. p. 60–74. Disponível em: http://www.editoracientifica.org/articles/code/211006501.

ROSSATO, A. E. Modelo de busca e sistematização de dados: Fitoterapia baseada em Evidências e Experiências aplicada à Prática Clínica. In: ROSSATO, A. E.; DAL-BÓ, S.; CITADINI-ZANETTE, V. (org.). Fitoterapia baseada em evidências e experiências aplicada à prática clínica. Ponta Grossa, PR: Atena, 2024. p. 16–47.

ROSSATO, A. E. et al. Pesquisa, Sistematização e Apresentação Técnica de Bidens pilosa (picão-preto): Aspectos Taxonômicos, Agroecológicos, Etnobotânicos e Terapêuticos. 2. ed. Criciúma, SC: GEPAF/UNESC, 2024. (Série Apresentações Técnicas - GEPAF/UNESC).

ROSSATO, A. L. Uso de plantas medicinais: cultura popular na experiência da pastoral da saúde da Paróquia São Paulo Apóstolo em Criciúma - SC. 2018. 60 f. Monografia - Universidade do Extremo Sul Catarinense - SC, [s. l.], 2018.

ROSSATO, A. E.; DAL-BÓ, S.; CITADINI-ZANETTE, V. Fitoterapia baseada em evidências e experiências aplicada à prática clínica. Ponta Grossa, PR: Atena, 2024. Disponível em: https://atenaeditora.com.br/catalogo/ebook/fitoterapia-baseada-em-evidencias-e-experiencias-aplicada-a-pratica-clinica.

ROSTAMIZADEH, P. et al. Effects of licorice root supplementation on liver enzymes, hepatic steatosis, metabolic and oxidative stress parameters in women with nonalcoholic fatty liver disease: A randomized double-blind clinical trial. Phytotherapy research: PTR, [s. l.], v. 36, n. 10, p. 3949–3956, 2022. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1002/ptr.7543.

SILVA JR. Essentia herba: Plantas bioativas. Florianópolis: EPAGRI, 2003. v. 1

SILVA JR. Plantas Medicinais. Florianópolis: EPAGRI (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina), 1997.

SIMÕES, C. M. O. et al. Plantas da medicina popular no Rio Grande do Sul. 5. ed. Porto Alegre: Universidade/UFRGS, 1998.

SOURBIER, C. et al. Targeting loss of the Hippo signaling pathway in NF2-deficient papillary kidney cancers. Oncotarget, [s. l.], v. 9, n. 12, p. 10723–10733, 2018. Disponível em: http://dx.doi.org/10.18632/oncotarget.24112.

XUAN, T. D.; KHANH, T. D. Chemistry and pharmacology of Bidens pilosa: an overview. Journal of pharmaceutical investigation, [s. l.], v. 46, n. 2, p. 91–132, 2016. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1007/s40005-016-0231-6.




DOI: http://dx.doi.org/10.18542/ethnoscientia.v9i2.17007

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Direitos autorais 2024 Ethnoscientia - Brazilian Journal of Ethnobiology and Ethnoecology

                          

ISSN 2448-1998