CONSERVAÇÃO DA SOCIOBIODIVERSIDADE NA RESEX CHICO MENDES, ACRE: DESAFIOS E PERSPECTIVAS
Resumo
A Reserva Extrativista Chico Mendes (RESEX CM) surgiu em contraponto ao modelo de desenvolvimento agropecuário idealizado para a Amazônia na década de 1960. Possui como fundamento as reivindicações de populações extrativistas, cujo cerne é o uso e manejo adequado dos recursos naturais associado à geração de renda e à garantia de permanência nos territórios. Contudo, devido à falta de investimentos e infraestrutura para o escoamento e comercialização dos produtos da biodiversidade, moradores da RESEX implementaram a pecuária em parte das áreas produtivas. Além de gerar impactos negativos à paisagem florestal, esta atividade não condiz, a médio e longo prazo, com o modo de vida extrativista. Diante desta contradição, nosso estudo dedica-se a registrar como moradores de uma das comunidades da RESEX interpretam o cenário atual e quais as possíveis estratégias de inovação. O estudo foi desenvolvido por meio das metodologias participativas FOFA, “rio da vida” e mapa mental. Constatamos as transformações históricas, econômicas, socioculturais e ambientais que vêm ocorrendo desde o período da borracha (final do século XIX) até o momento. Quanto aos desafios enfrentados pela comunidade, destacamos a luta de alguns núcleos familiares contra a implementação da pecuária extensiva e consequente desmatamento exacerbado, assim como conflitos relacionados a retirada clandestina de madeira e caça ilegal por invasores. Já no que se refere às perspectivas dos comunitários participantes, observamos o interesse por uma organização socioeconômica estruturada, a partir de ferramentas como associativismo e cooperativismo. Junto aos comunitários, detectamos a importância do selo de identificação geográfica e do fortalecimento de cadeias de valor já existentes, como também a necessidade de fomentar novas oportunidades de renda através de produtos regionais agroecológicos e produtos florestais não-madeireiros.
Palavras-chave
Uso e manejo dos recursos naturais; Produtos florestais não madeireiros; Associativismo; Sociobiodiversidade.
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PDFReferências
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DOI: http://dx.doi.org/10.18542/ethnoscientia.v7i1.11046
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