PLANTAS MEDICINAIS NO TRATAMENTO DE ENFERMIDADES: SABERES TRADICIONAIS NO ASSENTAMENTO FAZENDA PALESTINA, CRAVOLÂNDIA-BAHIA
Resumo
O presente trabalho teve como objetivo realizar um levantamento das plantas medicinais conhecidas pela comunidade do Assentamento Fazenda Palestina, localizado em uma comunidade rural, no município de Cravolândia-BA, visando à valorização e registro dos saberes tradicionais relacionados ao uso dessas plantas. A pesquisa buscou resgatar práticas culturais enraizadas no cotidiano da comunidade, para tanto, foi adotada uma abordagem qualiquantitativa, utilizando entrevistas semiestruturadas e turnê guiada como principais instrumentos de coleta de dados. A seleção dos participantes ocorreu por meio da técnica de amostragem "Snowball" (bola de neve), a partir da qual a primeira especialista foi reconhecida e entrevistada, esta indicou outras conhecedoras de plantas, e assim sucessivamente, até o encerramento das indicações, totalizando dez mulheres reconhecidas na comunidade por seu domínio sobre o uso de plantas medicinais. A partir das entrevistas, foi possível compreender os modos de aquisição, uso e transmissão desses saberes, bem como o papel central das mulheres como guardiãs do conhecimento tradicional. Foram identificadas 104 espécies medicinais, distribuídas em 42 famílias botânicas, revelando a diversidade e a riqueza do patrimônio etnobotânico local. Dentre as espécies, 65% são consideradas exóticas (cultivadas ou naturalizadas) e 35% são plantas nativas do território brasileiro. As famílias botânicas mais citadas foram as Lamiaceae, Fabaceae, Asteraceae e Cucurbitaceae. Os resultados reforçam a importância da integração entre os saberes populares e a ciência, além de evidenciar a necessidade de ações que incentivem a conservação da biodiversidade e a valorização dos conhecimentos tradicionais nas comunidades rurais.
Palavras-chave
Etnobotânica; conhecimento tradicional; farmacopeia; Vale do Jiquiriçá.
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