Cabeçalho da página

FLORA QUE EMBELEZA E SUSTENTA: OS BUQUÊS DA FEIRA DE AGRICULTORES ECOLOGISTAS (FAE) DE PORTO ALEGRE, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL

Mateus Henrique Schenkel, Ricardo Arthur Thomé Lenz, Bruno de Souza, Giulia Frias Santos, Lua Dallagnol Cezimbra, Wendy Carolay Navarro Romo, Jeany Dare, Jonas Dillenburg Rosa, Rumi Regina Kubo, Mara Rejane Ritter

Resumo

A degradação ambiental e a predominância do uso de espécies exóticas no paisagismo brasileiro realçam a importância das plantas ornamentais nativas para a conservação da biodiversidade e valorização regional. Apesar da alta diversidade, a presença de plantas nativas no mercado formal é limitada, indicando uma negligência histórica. Feiras livres emergem como espaços cruciais para a comercialização de flora autóctone, promovendo a preservação ambiental e a geração de renda local. Este estudo buscou identificar as espécies ornamentais comercializadas em buquês na Feira de Agricultores Ecologistas (FAE), analisando sua composição florística em termos de origem e forma, além de discutir seus significados ecológicos e culturais. O trabalho foi realizado na FAE de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, analisando buquês de três bancas de diferentes regiões do estado, no outono de 2025. As espécies foram herborizadas, identificadas com auxílio de literatura e especialistas, e classificadas quanto ao hábito e forma de crescimento. Foram identificadas 48espécies pertencentes a 37 gêneros e 18 famílias, com predominância de Asteraceae (20 spp.) e Amaranthaceae (6 spp.). Ervas (24 spp.) e arbustos (12 spp.) foram os hábitos mais representados. A similaridade florística entre as bancas foi baixa, com apenas quatro espécies (8,33%) compartilhadas. Foram identificadas espécies nativas (21) e exóticas (25). As espécies também apresentaram múltiplos usos (medicinal, alimentício, folhagem de corte). Este estudo demonstra que plantas nativas já compõem uma fração importante dos buquês comercializados na FAE, contribuindo para a valorização e preservação da biodiversidade local. O uso dessas espécies, que geralmente envolve apenas partes aéreas, parece não ter impacto ambiental significativo e pode promover a percepção botânica, além de gerar renda para as famílias. É fundamental desenvolver estratégias que considerem a percepção e aceitação do consumidor para ampliar a inserção da flora nativa no mercado de plantas ornamentais.


Palavras-chave

arranjos florais, etnobotânica urbana, feiras livres, plantas ornamentais


Texto completo:

PDF

Referências


ANDRADE, B. O. et al. 12,500+ and counting: biodiversity of the Brazilian Pampa. Frontiers of Biogeography, v. 15, n. 2, 6 jun. 2023.

ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Farmacopeia Brasileira. Plantas Medicinais – Volume II. 7. ed. Brasília: Anvisa, 2024.

ARAÚJO, F. P.; KLEIN, P. A.; FERNANDES, M.; RENCK, M. V. K.; ROLIM, R. G. Se essa rua fosse minha eu mandava semear: plantas ornamentais nativas para manutenção de polinizadores em áreas urbanas nos Campos de Cima da Serra, Rio Grande do Sul, Brasil. Pesquisas, Botânica, 2021.

AZEVEDO, M. V. M. P. S.; LINS, S. R. O. Aplicações terapêuticas da Alpinia Zerumbet (colônia) baseado na medicina tradicional: uma revisão narrativa (2010-2020)/Therapeutic applications of the Alpinia Zerumbet (colônia) based on traditional medicine: a narrative review (2010-2020). Brazilian Journal of Development, v. 6, n. 11, p. 84222–84242, 3 nov. 2020.

BARROS, F. Sociabilidade, cultura e biodiversidade na Beira de Abaetetuba no Pará. Ciências Sociais Unisinos, v. 45, n. 2, p. 152–161, 2009. DOI: 10.4013/csu.2009.45.2.07.

BERRALL, J. S. Decoración floral. Enciclopedia Británica, 17 ago. 2022. Disponível em: https://www.britannica.com/art/floral-decoration

CARRION, A. A.; BRACK, P. Eudicotiledôneas ornamentais dos campos do bioma Pampa no Rio Grande do Sul. Revista Brasileira de Horticultura Ornamental, Porto Alegre, v. 18, n. 1, p. 23–37, 2012.

COELHO-DE-SOUZA, G.; PEREIRA, F.; KUBO, R. Contextualização da problemática ambiental com ênfase nos aspectos jurídicos. In: COELHO-DE-SOUZA, G.; KUBO, R. R.; MIGUEL, L. A. Extrativismo da samambaia-preta no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2008.

D’OLIVEIRA, L. O. B.; RESENDE, G. M.; FLORI, J. E. Produtividade do aspargo sob irrigação na região do Submédio São Francisco. Horticultura Brasileira, v. 17, p. 41–44, mar. 1999.

DI MARTINO, L.; DI CECCO, V.; DI CECCO, M.; DI SANTO, M.; CIASCHETTI, G.; MARCANTONIO, G. Use of native plants for ornamental purposes to conserve plant biodiversity: Case of study of Majella National Park. Journal for Nature Conservation, v. 56, 2020. DOI: 10.1016/j.jnc.2020.125839.

FAE — Feira dos Agricultores Ecologistas. Sobre a FAE. Porto Alegre: FAE, 1989–2020. Disponível em: https://feiraecologica.com.br/fae/sobre-a-fae/. Acesso em: 9 jul. 2025.

FLORA E FUNGA DO BRASIL. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: http://floradobrasil.jbrj.gov.br/. Acesso em: mai. 2025.

FORNAZIER, A.; PEDROZO, E. A. A confiança entre os agricultores na garantia do atributo ecológico de sua produção. Revista Brasileira de Agroecologia, Porto Alegre, v. 5, n. 1, p. 114–126, 2010.

GODOY, W. I.; ANJOS, F. S. A importância das feiras livres ecológicas: um espaço de trocas e saberes da economia local. Revista Brasileira de Agroecologia, v. 2, n. 1, p. 365, 2007.

HASENACK, H.; SETUBAL, R. B. Distribuição e estado de conservação atual dos campos. In: SETUBAL, R. B.; BOLDRINI, I. I.; FERREIRA, P. M. A. (org.). Campos dos Morros de Porto Alegre. Porto Alegre: Igré Associação Sócio-Ambientalista, 2011. p. 89–93.

HECK, R. M.; RIBEIRO, M. V.; BARBIERI, R. L. (eds.). Plantas medicinais do Bioma Pampa no cuidado em saúde. Brasília, DF: Embrapa, 2017.

HEIDEN, G.; BARBIERI, R. L.; STUMPF, E. R. T. Considerações sobre o uso de plantas ornamentais nativas. Ornamental Horticulture, v. 12, n. 1, 9 jun. 2006.

KINUPP, V. F.; BARROS, I. B. I. Plantas alimentícias não-convencionais da região metropolitana de Porto Alegre, RS. 2007.

KINUPP, V. F.; LORENZI, H. Plantas alimentícias não convencionais (PANC) no Brasil: guia de identificação, aspectos nutricionais e receitas ilustradas. Nova Odessa: Instituto Plantarum de Estudos da Flora, 2021.

KISSMANN, K. G.; GROTH, D. Plantas infestantes e nocivas. 1991.

LORENZI, H.; SOUZA, H. M. Plantas ornamentais no Brasil: arbustivas, herbáceas e trepadeiras. 4. ed. Nova Odessa: Editora Plantarum, 2008.

MATIELLO, J.; GRANZOTTO, F.; ROVEDDER, A. P. M. Plantas nativas ornamentais do bioma Pampa: potenciais e popularização. 1. ed. Curitiba: Editora CRV, 2022.

MARCHIORETTO, M. Chaves de identificação dos gêneros e espécies de Amaranthaceae no Rio Grande do Sul. Pesquisas, Botânica, v. 65, p. 123–127, 1 jan. 2014.

MELLO, L. E. M. Plantas Ornamentais em Paisagismo. In: ENCONTRO NACIONAL SOBRE FLORICULTURA E PLANTAS ORNAMENTAIS. Anais... Porto Alegre: Corag, 1986. p. 55–63.

MIOTTO, S. T. S.; BORTOLUZZI, R. L. C.; IGANCI, J. R. V.; SILVEIRA, F. S. (orgs.). Leguminosae - Papilionoideae do Rio Grande do Sul, Brasil. Porto Alegre: Gráfica da UFRGS, 2022.

OLIVEIRA JUNIOR, C. J. F.; GONÇALVES, F. S.; COUTO, F.; MATAJS, L. Potencial das espécies nativas na produção de plantas ornamentais e paisagismo agroecológico. Revista Brasileira de Agroecologia, v. 8, n. 3, dez. 2013. Disponível em: http://www.aba-agroecologia.org.br/revistas/index.php/rbagroecologia/article/view/13330. Acesso em: 5 mai. 2025.

OLIVEROS, J. C. Venny. An interactive tool for comparing lists with Venn's diagrams. 2007–2015. Disponível em: https://bioinfogp.cnb.csic.es/tools/venny/index.html.

PADILHA, T. R.; BRACK, P. Levantamento de flores alimentícias no Rio Grande do Sul, Brasil. 2019.

PANERO, J. L.; FUNK, V. A. The value of sampling anomalous taxa in phylogenetic studies: major clades of the Asteraceae revealed. Molecular Phylogenetics and Evolution, v. 47, p. 757–782, 2008.

ROLIM, R. G.; FERREIRA, P. M. A.; SCHNEIDER, A. A. et al. How much do we know about distribution and ecology of naturalized and invasive alien plant species? A case study from subtropical southern Brazil. Biological Invasions, v. 17, n. 5, p. 1497–1518, 2015.

ROLIM, R.; OVERBECK, G.; BIONDO, E. Produção e comercialização de espécies vegetais nativas ornamentais no Rio Grande do Sul. Revista Eletrônica Científica da UERGS, v. 7, p. 30–40, 26 abr. 2021.

SPECIESLINK. SpeciesLink network. 2025. Disponível em: https://specieslink.net/search/. Acesso em: 15 mai. 2025.

RITTER, M.; CHRIST, A.; ZEVIESKI, A.; FÜLBER, M. An overview of the cultural and popular use of Baccharis. In: FERNANDES, G. W.; OKI, Y.; BARBOSA, M. (orgs.). Baccharis: From Evolutionary and Ecological Aspects to Social Uses and Medicinal Applications. 2022. p. 401–416.

SCHNEIDER, A. A. A flora naturalizada no estado do Rio Grande do Sul, Brasil: herbáceas subespontâneas. Pesquisas, Botânica, v. 15, n. 2, 2007.

STUMPF, E. R. T.; BARBIERI, R. L.; HEIDEN, G. (eds.). Cores e formas no Bioma Pampa: plantas ornamentais nativas. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2009. 276 p. ISBN 978-85-85942-38-3.

SOUZA, V. C.; LORENZI, H. Botânica Sistemática. 4. ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2019. 768 p.

VIEIRA, N. K. Baccharis articulata. In: CORADIN, L.; SIMINSKI, A.; REIS, A. (eds.). Espécies nativas da flora brasileira de valor econômico atual ou potencial: plantas para o futuro – Região Sul. Brasília, DF: MMA, 2011a. p. 545–549.

VIEIRA, N. K. Baccharis dracunculifolia. In: CORADIN, L.; SIMINSKI, A.; REIS, A. (eds.). Espécies nativas da flora brasileira de valor econômico atual ou potencial: plantas para o futuro – Região Sul. Brasília, DF: MMA, 2011b. p. 556–560.

WEISS, D. Introduction of new cut flowers: domestication of new species and introduction of new traits not found in commercial varieties. p. 129–137. In: VAINSTEIN, A. (ed.). Breeding for ornamentals. Dordrecht: Springer, 2002. 450 p.




DOI: http://dx.doi.org/10.18542/ethnoscientia.v10i1.19269

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Direitos autorais 2025 Ethnoscientia - Brazilian Journal of Ethnobiology and Ethnoecology

                          

ISSN 2448-1998