Uma experiência com o ensino de ciências para membros de comunidades indígenas: A necessidade de atividades abertas
Resumo
Relato de experiência em formação de docentes indígenas conduzida pelo Núcleo de Educação Indígena (NEI) da Secretaria de Estado de Educação de São Paulo, realizada entre alunos das etnias Terena, Kaingang, Krenak, Guarani e Tupi-Guarani. Previsto pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), o ensino bilíngüe e intercultural oferecido aos povos indígenas é reivindicação antiga. O planejamento do Curso de Formação de Professores Indígenas para o Ciclo I do Ensino Fundamental iniciou em 1999 e se contretizou em 2002 com a realização do I Curso. Foram 2.230 horas para o Ensino Básico das quais 360 foram presenciais. Ao todo 60 indígenas concluíram o curso em Setembro de 2003 e se habilitaram a lecionar em escolas nas aldeias e comunidades. Do programa do Curso constaram discussões sobre temas de interesse das comunidades onde disciplinas das Ciências Naturais pudessem ser devidamente contextualizadas. Dentre elas: o problema do lixo, a biodiversidade, os ciclos da vida, o sistema solar e a eletricidade. Atividades práticas e discussões foram a tônica da prática pedagógica. A equipe enfrentou problemas quando apresentou a concepção não-indígena do universo e foi questionada a partir do sistema de valores indígenas. Os alunos apresentaram suas interpretações acerca de conceitos científicos a eles apresentados por uma ótica não-indígena. Os momentos mais produtivos foram os marcados por investigações de problemas da realidade indígena através da perspectiva dos alunos e seus sistemas de crenças e valores. A construção de conceitos e o desenvolvimento intelectual marcaram as atividades e são representativos da visão de mundo indígena e de sua maneira de construir conhecimento científico a partir de suas culturas de origem.
Palavras-chave
educação indígena; concepções alternativas; resolução de problemas
Texto completo:
PDFReferências
CARVALHO, A.M.P., VANNUCCHI, A. I., BARROS,M. A., GONÇALVES, M. E. R. e REY, R.C., Ciências no Ensino Fundamental- O conhecimento físico. São Paulo: Editora Scipione, 1998.
COLINVAUX, D., A Formação do Conhecimento Físico- Um estudo da causalidade em Jeans Piaget, Niterói: EDUFF e Rio de Janeiro: UNIVERTA, 1992.
COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Vamos ouvir a voz dos que têm vez. Relatório das Audiências Públicas sobre a situação dos povos indígenas no Estado de São Paulo, Junho de 2002.
D’ AMBROSIO, U. Palestra de abertura do Curso de Formação de Professores Indígenas do Estado de São Paulo, In: SÃO PAULO, Secretaria da Educação do Estado, Magistério Indígena Novo Tempo- Um caminho do meio (da proposta à interação). São Paulo, 2003.
FLEURI, R. M., Multiculturalismo e Interculturalismo nos Processos Educacionais. In: CANDAU, V.M. (org.,), Ensinar e Aprender: Sujeitos, Saberes e Pesquisas. Rio de Janeiro: DP & A, 2000.
GARCÍA, J.E e GARCIA, F.F., Aprendendo investigando, Serie Practica, Vol.2. Sevilla, Díada editoras, 1989.
KAMII, C. e DREVIES, R., O Conhecimento Físico na Educação Pré- Escolar: Implicações da Teoria de Piaget. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.
LAWSON, A. E., Using the learning cycle to teach biology concepts and reasoning pattens. Journal of Biological Education, Vol. 35, n. 4, 2001.
LAWSON, A.E., et al., What kinds of scientific concepts exist? Concept constructions and intellectual development in college Biology. Journal of Research in Science Teaching, Vol. 37, n. 9, 2000.
PIAGET, J. e INHELDER, B., A psicologia da criança. São Paulo, Difel, 1976.
SNIVELY, G. e CORSIGLIA, J., Discovering Indigenous Science: Implications for Science Education. Science Education, Vol. 85, n. 1, 2001.
DOI: http://dx.doi.org/10.18542/amazrecm.v1i0.1619
Direitos autorais 2005 CC-BY