Olhares e saberes outros, movimentos, teorias e práticas sociais, culturais e museais Prof. Dr. Diogo Jorge de Melo (UFPA- Faculdade de Artes Visuais e Programa de Pós-Graduação em Cidades, Territórios, Identidades e Educação) Profa. Dra. Maria Terezinha Resende Martins (Ecomuseu de Belém, Secretaria Municipal de Educação e Cultura-SEMEC-Belém/PA) Prof. Dr. Álvaro Campelo Martins Pereira (Universidade Fernando Pessoa – Centro em Rede de Investigação em Antropologia) Prof. Dr. André Villa (Universidade Paris 8 - Departamento de Música - Laboratório Musidanse) Ao nos referirmos a olhares e saberes outros, os compreendemos como a constituição de práticas e exercícios epistêmicos realizados em prol da complexidade da diversidade cultural em sua totalidade. Uma diversidade abordada como um agente ao embate aquilo compreendido como sistema mundo[1], contextualizando as estruturas das colonialidades como padrão monológico referenciado. Nesse sentido, Britto, Melo e Monteiro (2023), em uma busca de diferentes formas de se pensar e compreender o “devir outro”, falam em possibilidades museais. Essa abordagem se dirige principalmente ao contexto amazônico e almeja o estabelecimento de um sonhar o futuro, “reconhecendo potencialidades e, principalmente, singularidades viáveis para o dito fenômeno museal” (p.45). Nesse aspecto, buscamos no presente volume de Margens a diversidade de posicionamentos críticos às estruturas coloniais e imperialistas, direcionado o foco principalmente sobre as novas possibilidades epistêmicas. Trazemos assim a ideia de movimento enquanto uma multiplicidade de ações que, em sua busca por transformações, enquanto categoria plural de um devir de possibilidades, rompe com a inércia. Uma ruptura que se potencializa principalmente se somada às perspectivas de caráter decolonial, às quais podemos considerar como movimentos serpentiformes – em analogia às mitopoéticas da cobra grande que causa tremores em diversas cidades amazônicas. Sinuosidades, emaranhamentos e constrições que estão sempre a nos levar para um lugar de instabilidade – ou de estabilidade oscilante – permitindo ao mesmo tempo nossa locomoção por distintos meios, visto que tanto os centros quanto as margens sempre se abalam em reação ao movimento, ainda que isso ocorra de formas distintas entre um e outro. Esse dossiê visa problematizar sobre as distintas relações entre as visões colonialistas e imperialistas com o próprio processo decolonial, explorando assim a multiplicidade de posicionamentos sobre essas estruturas de pensamento. Ora, é justamente escutando a voz dos povos originários entre outras identidades étnicas – além de questões de gênero e raciais – que nós acreditamos ser possível de aprendemos como sair da inércia via um movimento não uniforme. Assim, para somarmos lugares de fala[2] às possibilidades argumentativas sobre esse processo e promovermos debates críticos aos processos de dominação, um enorme leque de abordagens e proposições são vislumbrados nessa proposta de dossiê da Revista Margens. E principalmente pelo fato que o presente periódico ocupa um lugar social e acadêmico diferenciado, tendo sida fundada e desde então gerida em território da Amazônia. Pretendemos expandir as questões dos movimentos sociais serpenteando e conduzindo saberes que possam se estabelecer a partir de pensamentos contemporâneos, buscando rompimentos estruturais em âmbito social, político, filosófico e epistêmico. Propostas que venham dialogar com diversos e complexos saberes, principalmente em torno de questões culturais, museais e outras circunscrições pertinentes. Circunscrições que possam ainda envolver o âmbito artístico, poético e estético na busca por possibilidades de escrevivências[3], seja em termos de escritas pertinentes “a contra pelo”, como nos diria Benjamin (1996), ou a partir de um programa de desordem absoluta, conforme Vergès (2023). Buscamos aqui por novas formas de se pensar os museus e as manifestações culturais e institucionais, por proposições atuais vinculadas à museologia social ou sociomuseologia que possam interagir com as acepções das museologias comunitárias, indígenas, quilombolas, negras, ribeirinhas, LGBTQIA+ e amazônidas, dentre outras diversas possibilidades. E, em coerência com essa dinâmica de pensamento plural, contribuições de outras áreas de conhecimento que queiram compartilhar suas teorias e práticas serão evidentemente muito bem-vindas, seja em termos de ciência da informação, arquivologia (arquivística), artes, biblioteconomia, ciências sociais, educação, história e psicologia. Chamamos a todes, todas e todos a essa prática reflexiva com a convicção de que esse debate será fértil e nos proverá de resultados surpreendentes, os quais nos ajudarão a sonhar e contribuir com o adiamento do fim do mundo, como nos diria Krenak (2017). No nosso entender, espaços museológicos e outros correlatos devem ser livres, críticos e políticos. Como lugares de possibilidades, de interpretações e de criação de autonomias, os espaços museológicos não podem caucionar estratégias de libertação que reverberem na construção de novos sistemas de dominação a serem impostos. BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1996. Version en français : Sur le concept d’histoire, IX, 1940. Gallimard, Flolio/Essais, 2000. English Edition: On the Concept of History. In: Walter Benjamin: Selected Writings, Volume 4: 1938–1940. Cambridge, Massachusetts: Belknap Press/Harvard University Press, 2006. BRITTO, Rosangela; MELO, Diogo Jorge de; MONTEIRO, Lidiane da Costa. “Museu é o mundo”: um devir outro dos museus da Região Amazônica. In: BRITTO, Rosangela; MELO, Diogo; GOMES, Luzia; POLARO, João. Outras narrativas sobre museus: contribuições da Amazônia paraense para os debates sobre a nova definição de museu do Conselho Internacional de Museus (ICOM). Belém: Programa de Pós-graduação em Artes / UFPA, 2023, p.41-50. KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, Eurocentrismo e América Latina. In: A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, 2005. RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Belo Horizonte: Letramento; Justificando, 2017. SOARES, Lissandra Vieira; MACHADO, Paula Sandrine. "Escrevivências" como ferramenta metodológica na produção de conhecimento em Psicologia Social. Revista Psicologia Política, v.17, n.39, 2017, p. 203-219. VERGÈS, Françoise. Programme de désordre absolu : décoloniser le musée. Paris: La Fabrique Editions, 2023. Versão em português: Descolonizar o museu: programa de desordem absoluta. São Paulo: Ubu Editora, 2023. English Edition: A Programme of Absolute Disorder: Decolonizing the Museum, London: Pluto Press, 2024. [1] Conceito do sociólogo Immanuel Maurice Wallerstein, amplamente utilizado pelos estudos decoloniais (Quijano, 2005). [2] Conceito desenvolvido no âmbito do feminismo negro (Ribeiro, 2017). [3] Referência ao conceito da escritora Conceição Evaristo, a partir do termo utilizado em seu livro “Becos da Memória”. Compreende que histórias são inventadas quando são contadas, mesmo as reais, logo, o ato de escreviver significa contar histórias que remetem a experiências coletivizadas, integradora entre autora, protagonista e seus marcadores sociais (Soares e Machado, 2017).
Other views and knowledge, movements, theories and social, cultural and museum practices Diogo Jorge de Melo (UFPA - Faculty of Visual Arts and Postgraduate Program in Cities, Territories, Identities and Education) Maria Terezinha Resende Martins (Ecomuseum of Belém, Municipal Department of Education and Culture-SEMEC-Belém/PA) Álvaro Campelo Martins Pereira (Fernando Pessoa University - Anthropology Research Network Center) André Villa (University Paris 8 - Department of Music - Musidanse Laboratory)
When we refer to other perspectives and knowledge, we understand them as the constitution of epistemic practices and exercises carried out in favor of the complexity of cultural diversity. Diversity is approached as an agent in the struggle against what is understood as a world system [1], contextualizing the structures of coloniality as a referenced monological pattern. In this sense, Britto, Melo, and Monteiro (2023), searching for different ways of thinking about and understanding “becoming other”, talk about museum possibilities. This approach is directed mainly at the Amazonian context. It aims to establish a dream of the future, “recognizing potential and, above all, viable singularities for the so-called museum phenomenon” (p.45). In this respect, we seek a diversity of positions critical of colonial and imperialist structures in this volume of Margens, focusing mainly on new epistemic possibilities. In this way, we bring up the idea of movement as a myriad of actions that, in their search for transformations, as a plural category of becoming possibilities, get out of inertia mode. A rupture that is especially potentiated if added to perspectives of a decolonial nature, which we can consider as serpentine movements - in analogy to the mythopoetics of the large snake that causes tremors in various Amazonian cities. Sinuosities, entanglements, and constrictions are always taking us to a place of instability - or oscillating stability - while at the same time allowing us to move around in different ways since both the centers and the margins are always shaken in reaction to movement, even if this occurs in other ways between one and the other. This dossier aims to problematize the different relationships between colonialist and imperialist visions and the decolonial process per se, thus exploring the quantities of positions on these structures of thought. It is precisely by listening to the voices of indigenous peoples and other ethnic identities - in addition to gender and racial issues - that we believe it is possible to learn how to break out of inertia through a non-uniform movement. So, to add places of speech [2] to the argumentative possibilities about this process and promote critical debates about processes of domination, a huge range of approaches and propositions are envisioned in this proposal for a dossier in the Margens. Mainly because this journal occupies a distinctive social and academic place, having been founded and managed in the Amazonian territory. We intend to expand the issues of social movements by winding and leading knowledge that can be established from contemporary thinking, seeking structural breaks in the social, political, philosophical, and epistemic spheres. Proposals come to dialog with diverse and complex knowledge, especially around cultural issues, museums, and other pertinent circumscriptions. Circumscriptions can also involve the artistic, poetic, and aesthetic spheres in the search for possibilities for writing experiences [3], whether in terms of pertinent writing “against the grain”, as Benjamin (1996) would tell us, or from a program of absolute disorder, according to Vergès (2023). Here we are looking for new ways of thinking about museums and cultural and institutional manifestations, for current propositions linked to social museology or socio-museology that can interact with the concepts of community, Indigenous, quilombola, black, ribeirinhos, LGBTQIA+, and Amazonian museologies, among other diverse possibilities. And, in line with this dynamic of plural thinking, contributions from different areas of knowledge that want to share their theories and practices will be very welcome, whether in terms of information science, archives, the arts, librarianship, social sciences, education, history, or psychology. We call everyone to this reflective practice with the conviction that this debate will be fertile and bring surprising results, which will help us to dream and contribute to postponing the end of the world, as Krenak (2017) would tell us. We believe museums and other related spaces should be free, critical, and political. As places of possibilities, interpretations, and the creation of autonomy, museum spaces cannot foster liberation strategies that reverberate at the construction of new systems of domination to be imposed. BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1996. Version en français : Sur le concept d’histoire, IX, 1940. Gallimard, Flolio/Essais, 2000. English Edition: On the Concept of History. In: Walter Benjamin: Selected Writings, Volume 4: 1938–1940. Cambridge, Massachusetts: Belknap Press/Harvard University Press, 2006. BRITTO, Rosangela; MELO, Diogo Jorge de; MONTEIRO, Lidiane da Costa. “Museu é o mundo”: um devir outro dos museus da Região Amazônica. In: BRITTO, Rosangela; MELO, Diogo; GOMES, Luzia; POLARO, João. Outras narrativas sobre museus: contribuições da Amazônia paraense para os debates sobre a nova definição de museu do Conselho Internacional de Museus (ICOM). Belém: Programa de Pós-graduação em Artes / UFPA, 2023, p.41-50. KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, Eurocentrismo e América Latina. In: A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, 2005. RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Belo Horizonte: Letramento; Justificando, 2017. SOARES, Lissandra Vieira; MACHADO, Paula Sandrine. "Escrevivências" como ferramenta metodológica na produção de conhecimento em Psicologia Social. Revista Psicologia Política, v.17, n.39, 2017, p. 203-219. VERGÈS, Françoise. Programme de désordre absolu : décoloniser le musée. Paris: La Fabrique Editions, 2023. Versão em português: Descolonizar o museu: programa de desordem absoluta. São Paulo: Ubu Editora, 2023. English Edition: A Programme of Absolute Disorder: Decolonizing the Museum, London: Pluto Press, 2024. [1] Concept by sociologist Immanuel Maurice Wallerstein, widely used in decolonial studies (Quijano, 2005). [2] A concept developed within black feminism (Ribeiro, 2017). [3] Reference to writer Conceição Evaristo's concept, based on the term used in her book “Becos da Memória”. She understands that stories are invented when they are told, even real ones, so writing to live means telling stories that refer to collectivized experiences, integrating the author, the protagonist, and their social markers (Soares and Machado, 2017).
Otras miradas y saberes, movimientos, teorías y prácticas sociales, culturales y museológicas Al referirnos a miradas y a saberes otros, los entendemos como la constitución de prácticas y ejercicios epistémicos realizados a favor de la complejidad de la diversidad cultural en su totalidad. Una diversidad abordada como agente del embate con lo que se comprende como sistema mundo[1], contextualizando las estructuras de las colonialidades como un patrón monológico referenciado. En este sentido, Britto, Melo y Monteiro (2023), en una búsqueda de diferentes formas de pensar y entender el “devir otro”, hablan de las posibilidades del museo. Este enfoque está dirigido principalmente al contexto amazónico y desea establecer un soñar el futuro, “reconociendo potencialidades y, principalmente, singularidades viables para el llamado fenómeno museístico” (p.45). En este aspecto, buscamos en este volumen de Margens la diversidad de posicionamientos críticos hacia las estructuras coloniales e imperialistas, direccionado principalmente en nuevas posibilidades epistémicas. Traemos así la idea de movimiento como multiplicidad de acciones que, en su búsqueda de transformaciones, como categoría plural de un devir de posibilidades, que rompe con la inercia. Una ruptura que se fortalece y se suma a perspectivas de carácter decolonial, que podemos considerar como movimientos serpentinos – en analogía con la mitopoética de la gran serpiente que provoca temblores en varias ciudades amazónicas. Sinuosidades, enredos y constricciones que siempre nos están llevando a un lugar de inestabilidad - o estabilidad oscilante - al mismo tiempo que permiten nuestra locomoción por diferentes medios, ya que tanto los centros como los márgenes siempre tiemblan como reacción al movimiento, aunque éste ocurra de diferentes maneras entre uno y otro. Este dossier pretende problematizar las diferentes relaciones entre las visiones colonialistas e imperialistas con el propio proceso decolonial, explorando así la multiplicidad de posiciones sobre estas estructuras de pensamiento. Ahora bien, es precisamente escuchando la voz de los pueblos originarios entre otras identidades étnicas – además de las cuestiones raciales y de género – que creemos que es posible aprender a superar la inercia a través de un movimiento no uniforme. Así, con el objetivo de sumar lugares de fala[2] a las posibilidades argumentativas sobre este proceso y promover debates críticos sobre los procesos de dominación, se vislumbra una amplia gama de enfoques y proposiciones en esta propuesta de dossier de la Revista Margens. Y principalmente por el hecho de que este periódico ocupa un lugar social y académico distinto, al haber sido fundada y gestionada en la región amazónica. Pretendemos ampliar las problemáticas de los movimientos sociales serpenteando y conduciendo saberes que puedan establecerse a partir del pensamientos contemporáneos, buscando rupturas estructurales en los ámbitos social, político, filosófico y epistémico. Propuestas que dialogan con saberes diversos y complejos, principalmente en torno a cuestiones culturales, museológicas y otras circunscripciones relevantes. Circunscripciones que pueden involucrar también el ámbito artístico, poético y estético en la búsqueda de posibilidades de escrevivências[3], sea en términos de escrituras pertinentes “a contra pelo”, como diría Benjamin (1996), o basadas en un programa de desorden absoluto, según Vergès (2023). Buscamos aquí nuevas formas de pensar los museos y las manifestaciones culturales e institucionales, a partir de propuestas actuales vinculadas a la museología social o sociomuseología que puedan interactuar con los significados de las museologías comunitarias, indígenas, quilombolas, negras, ribereñas, LGBTQIA+ y amazónidas, entre otras posibilidades. Y, en coherencia con esta dinámica de pensamiento plural, serán obviamente muy bienvenidos los aportes de otras áreas del conocimiento que quieran compartir sus teorías y prácticas. Sea en materia de ciencias de la información, archivística, artes, biblioteconomía, ciencias sociales, educación, historia y psicología. Llamamos a todes a esta práctica reflexiva con la convicción de que este debate será fértil y nos brindará resultados sorprendentes, que nos ayudarán a soñar y contribuir a posponer el fin del mundo, como nos diría Krenak (2017). En nuestro entender, los espacios museales y otros espacios afines deben ser libres, críticos y políticos. Como lugares de posibilidades, interpretaciones y creación de autonomías, los espacios museológicos no pueden garantizar estrategias de liberación que repercutan en la construcción de nuevos sistemas de dominación y de imposición. BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1996. Version en français : Sur le concept d’histoire, IX, 1940. Gallimard, Flolio/Essais, 2000. English Edition: On the Concept of History. In: Walter Benjamin: Selected Writings, Volume 4: 1938–1940. Cambridge, Massachusetts: Belknap Press/Harvard University Press, 2006. BRITTO, Rosangela; MELO, Diogo Jorge de; MONTEIRO, Lidiane da Costa. “Museu é o mundo”: um devir outro dos museus da Região Amazônica. In: BRITTO, Rosangela; MELO, Diogo; GOMES, Luzia; POLARO, João. Outras narrativas sobre museus: contribuições da Amazônia paraense para os debates sobre a nova definição de museu do Conselho Internacional de Museus (ICOM). Belém: Programa de Pós-graduação em Artes / UFPA, 2023, p.41-50. KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, Eurocentrismo e América Latina. In: A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, 2005. RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Belo Horizonte: Letramento; Justificando, 2017. SOARES, Lissandra Vieira; MACHADO, Paula Sandrine. "Escrevivências" como ferramenta metodológica na produção de conhecimento em Psicologia Social. Revista Psicologia Política, v.17, n.39, 2017, p. 203-219. VERGÈS, Françoise. Programme de désordre absolu : décoloniser le musée. Paris: La Fabrique Editions, 2023. Versão em português: Descolonizar o museu: programa de desordem absoluta. São Paulo: Ubu Editora, 2023. English Edition: A Programme of Absolute Disorder: Decolonizing the Museum, London: Pluto Press, 2024.
[1] Concepto del sociólogo Immanuel Maurice Wallerstein, utilizado en los estudios decoloniales (Quijano, 2005). [2] Concepto desarrollado en el ámbito del feminismo negro (Ribeiro, 2017). [3] Referencia al concepto de la escritora Conceição Evaristo, a partir del término utilizado en su libro “Becos da Memória”. Entiende que las historias se inventan cuando se cuentan, incluso las reales, por lo tanto, el acto de escreviver significa contar historias que remiten a experiencias colectivizadas, integrándose entre autora, protagonista y sus marcadores sociales (Soares y Machado, 2017).
Autres regards et savoirs, mouvements, théories et pratiques sociales, culturelles et muséales Lorsque nous nous référons à d'autres regards, aux savoirs de l’autre, nous les comprenons comme la constitution de pratiques et d'exercices épistémiques réalisés en faveur de la complexité de la diversité culturelle. Une diversité abordée ici comme un agent dans la lutte contre le système monde[1], contextualisant ainsi les structures des différentes formes de colonialité [colonialidade] comme un modèle monologique référencé. En ce sens, Britto, Melo et Monteiro (2023), à la recherche de différentes manières de penser et de comprendre le « devenir autre », parlent de possibilités muséales. Leur approche, auquel nous faisons ici résonance, s’adresse en particulier au contexte amazonien et songe à établir un futur « reconnaissant des potentialités et, surtout, des singularités viables pour ledit phénomène muséal » (p.45). À cet égard, le présent volume de Margens cherche la diversité de positions critiques sur les structures coloniales et impérialistes, s’intéressant notamment à celles qui peuvent nous apporter des nouvelles possibilités épistémiques. Nous évoquons ainsi le mouvement en tant que multiplicité d’actions qui brisent l'inertie et cherchent des transformations dans le devenir des possibilités. Surtout si nous l’appliquons aux perspectives décoloniales lesquelles nous pouvons considérer comme des mouvements serpentins – dans une analogie avec la mythopoïétique du grand serpent qui provoque des tremblements de terre dans de nombreuses villes amazoniennes. Des sinuosités, des enchevêtrements et des constrictions qui nous amènent à un lieu d'instabilité tout en nous permettant de nous déplacer dans différents environnements, vu que les centres et les marges sont ainsi toujours ébranlés par le mouvement, même si cela peut se passer de différentes manières entre l’un et l’autre. Ce dossier vise ainsi problématiser les différentes relations entre les visions colonialistes et impérialistes avec le processus décolonial, en explorant et proposant des regards multiples sur ces structures de pensée. Or c'est précisément en écoutant les voix des peuples autochtones et d'autres identités ethniques – tout comme les questions de genre et de race – que nous pensons pouvoir apprendre à comment s’en sortir de l’inertie via un mouvement non uniforme. Ainsi, dans une démarche d’ajouter des lieux de parole aux possibilités d'argumentation à propos de ce processus et promouvoir des débats critiques sur les processus de domination, un énorme éventail d’approches et de propositions est entrevue dans ce dossier de la revue Margens. Et principalement par le fait que ce périodique occupe une place sociale et académique différenciée, en étant fondé et hébergé notamment en territoire amazonien. Nous cherchons donc à élargir les questions des mouvements sociaux, en parcourant les méandres et les connaissances de pointe à établir sur la base de la pensée contemporaine, en recherchant des ruptures structurelles dans les sphères sociales, politiques, philosophiques et épistémiques. Il s'agit de propositions de dialogue avec des connaissances diverses et complexes, principalement autour de questions culturelles, de musées et d'autres circonscriptions pertinentes. Des circonscriptions que peuvent toucher les sphères artistiques, poétiques et esthétiques dans la recherche de possibilités d’écrits-vécus[3] (escrevivências), c'est-à-dire d'écritures pertinentes soit « à rebrousse-poil », comme nous le dirait Benjamin (1996), soit à partir d'un programme de désordre absolu, selon Vergès (2023). Nous recherchons ainsi de nouvelles façons de se penser les musées et les manifestations culturelles et institutionnelles qui s’établissent comme des propositions liées à la muséologie sociale, ainsi que les concepts de muséologie communautaire, amérindienne, quilombola, noire, ribeirinha, LGBTQIA+ et amazonienne, parmi d’autres nombreuses possibilités. Bien entendu, suivant cette dynamique de pensée plurielle, les contributions d'autres domaines de connaissance qui souhaitent partager leurs théories et pratiques seront également les bienvenues, que ce soit en termes de sciences de l'information, d'archiveologie, d'arts, de bibliothéconomie, de sciences sociales, d'éducation, d'histoire et de psychologie. Nous appelons à tout le monde à cette pratique réflexive avec la conviction que ce débat sera fertile et nous fournira des résultats très intéressants. Des textes qui pourront nous aider à rêver tout en contribuant à retarder la fin du monde, comme le dirait Krenak (2017). Selon nous, les musées et ses espaces connexes devraient être libres, critiques et politiques. En tant que lieux de possibilités, d'interprétations et de création d'autonomie, les espaces muséaux ne doivent point cautionner des stratégies de libération qui se répercutent dans la construction de nouveaux systèmes de domination. BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1996. Version en français : Sur le concept d’histoire, IX, 1940. Gallimard, Flolio/Essais, 2000. English Edition: On the Concept of History. In: Walter Benjamin: Selected Writings, Volume 4: 1938–1940. Cambridge, Massachusetts: Belknap Press/Harvard University Press, 2006. BRITTO, Rosangela; MELO, Diogo Jorge de; MONTEIRO, Lidiane da Costa. “Museu é o mundo”: um devir outro dos museus da Região Amazônica. In: BRITTO, Rosangela; MELO, Diogo; GOMES, Luzia; POLARO, João. Outras narrativas sobre museus: contribuições da Amazônia paraense para os debates sobre a nova definição de museu do Conselho Internacional de Museus (ICOM). Belém: Programa de Pós-graduação em Artes / UFPA, 2023, p.41-50. KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, Eurocentrismo e América Latina. In: A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, 2005. RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Belo Horizonte: Letramento; Justificando, 2017. SOARES, Lissandra Vieira; MACHADO, Paula Sandrine. "Escrevivências" como ferramenta metodológica na produção de conhecimento em Psicologia Social. Revista Psicologia Política, v.17, n.39, 2017, p. 203-219. VERGÈS, Françoise. Programme de désordre absolu : décoloniser le musée. Paris: La Fabrique Editions, 2023. Versão em português: Descolonizar o museu: programa de desordem absoluta. São Paulo: Ubu Editora, 2023. English Edition: A Programme of Absolute Disorder: Decolonizing the Museum, London: Pluto Press, 2024.
[1] Concept du sociologue Immanuel Maurice Wallerstein, largement utilisé dans les études décoloniales (Quijano, 2005). [2] Concept développé dans le cadre du féminisme noir (Ribeiro, 2017). [3] Référence au concept de l'écrivaine Conceição Evaristo, basé sur le terme utilisé dans son livre « Becos da Memória ». Elle comprend que les histoires sont inventées lorsqu'elles sont racontées, même les histoires réelles, de sorte que l'acte d'écrire pour vivre signifie raconter des histoires qui se réfèrent à des expériences collectivisées, en intégrant l'auteur, le protagoniste et leurs marqueurs sociaux (Soares et Machado, 2017). |